Gritamos, em clamor, num misto de lamento e ira, pela falta que o vil dinheiro nos faz!
Invetivamos este Governo, inculcamos nos rostos do actual Poder todos os malefícios dolorosos que já nos espartilham a vida, e os que, prevemos, vão continuar a apertar o garrote a que estamos sujeitos.
Não sem alguma, direi mesmo, muita razão. Este elenco governativo, ainda que cerceado de movimentos por imposições externas, não tem sabido gerir politicamente a Crise, sendo notória a falta do tacto requerido para seleccionar e aplicar as, inevitáveis, medidas de austeridade.
Desenganem-se, porém, os que têm por certeza adquirida, ou simplista visão, de que as recentes gigantescas manifestações populares, com especial ênfase a de 15 de Setembro, tiveram por motivação a TSU ou as outras medidas anunciadas pelo PM como integrantes do próximo Orçamento de Estado.
Nada mais falacioso e de vistas curtas! Aqueles propósitos, ainda que desastradamente comunicados, mais não foram de que o fósforo no pavio da carga explosiva que veio sendo urdida nas últimas décadas, sobretudo, nas últimas duas.
Sucessivas e incompetentes governanças, marcadas pelo despesismo, pelo amiguismo, num País onde tem campeado a suspeição e a corrupção nos meios políticos e no seu círculo de influências, foram um caldo que foi sendo cozinhado em lume brando, mas constante, a que a falácia da Justiça deu condimento final.
Foi aí que o Povo foi alimentando o descrédito na Política, nos políticos, nos Partidos, nesta Democracia de rapina.
Surgida a fase mais aguda e dolorosa da Crise, a mesa do descontentamento, da raiva nem sempre surda, do desalento, da sede por direitos em fuga e de justiça, ficou posta para a revolta popular.
Podem os actuais mandantes estarem imbuídos das melhores intenções, podem esforçar-se por saltar para o outro lado da falésia, do abismo em que fomos sendo lançados, que o poder de decisão está lá fora, encimado por uma Troika credora, que mais não pretende que preparar o terreno que lhe permita colher os vis frutos da sua sementeira a crédito, e a que estamos comprometidos.
O pior, em todo este calamitoso cenário, que nos deprime, é que, numa visão pragmática, sem efabulações febris, Portugal e os portugueses, não têm outra saída. Ninguém, de boa fé, o tem apontado, com séria viabilidade, nem existe outro caminho, seja com esta ou com outra gente em S. Bento.
A percepção que se tem, quando se expurga da Razão, a emoção mediática, e a amargura pessoal que assiste a cada um de nós, é que, qualquer aventureirismo precipitado, neste momento que vivemos, só nos pode colocar numa situação ainda mais gravosa do que que aquela de que já vimos padecendo. E, neste âmbito e por exemplo, duvido muito que a receita de greves sucessivas, revertam em favor da melhoria das nossas vidas.
Do que nos devemos penitenciar é que as justas manifestações que ora empreendemos, não tenham ocorrido há vinte, há quinze, há dez, há cinco anos, quando se foi inculcando nos nossos espíritos de cidadania, inebriados por uma União Europeia sem cérebro, que estávamos a ser vítimas da políticas eleitoralistas, de megalomanias perigosas e fúteis, onde floresceu o compadrio, a corrupção ao mais alto nível, enquanto a Justiça ia sucumbindo ao poder do dinheiro fácil e da pilhagem. Como, de resto, este Vouguinha, de há muito, vem alertando!...
O que nos resta? É continuar a trabalhar, a produzir, e a protestar contra as injustiças, pressionando para que haja equidade, competência e justiça na austeridade por parte de quem governa, mas sem deixarmos de estar atentos aos já muito activos arautos da demagogia e do populismo "Bota Abaixo", que defendem a terra queimada ou um Dilúvio, enquanto nos tentam cativar com um prometido lugar na Arca de Noé.....se e quando conseguirem afundar este País!