Sempre que, pela primeira vez do dia, me abeiro da janela do terraço, lá vêm eles e elas saltitantes, dando à asa, numa linguagem que não entendo, mas que se deve prender com pedido de "matabicho". Saltitam pelo parapeito e parecem indagar o que eu, eventualmente, traga por entre os dedos, onde por vezes chegam a pousar ao de leve.
Mantém-se, expectantes, e não desarmam nem desanimam das suas cabriolices chilreantes. As rolas e os pardais.
Lanço para o terraço a paparoca da manhã e eis que todo o comportamento se altera.
Enquanto as rolas, tranquilas, se abeiram da ração e por ali ficam até que o papo lhes dê travão, os pardais desaparecem a vista em voos rasantes para os telhados fronteiros e encetam, numa cadência regular, rápidos voos picados, em direcção ao petisco.
Metem-no no bico e fogem, desconfiados e espavoridos, como se estivessem em acções de rapina e assalto furtivo e levam, para longe, o espólio do assalto, como se o fossem depositar em offshores. Voltam e repetem os golpes de asa, enquanto há atractivo no terraço.
E, deixam-me a pensar, na diferença abismal de instintos entre as columbinas e os pardais.
Gratas e pacíficas as rolas, velhaca e mais propensa para as surtidas, a pardalada.
E, deixam-me , mais a vez, a especular de como no mundo das aves e dos humanos, podem haver temperamentos tão diferenciados!