Agarrei por aí! E sei que não é "lamechice"!
"Carta de um elemento das Forças de Segurança ao Pai Natal:
Querido Pai Natal,
É noite de Natal e mais uma vez, tenho de deixar a família para ir trabalhar.
Os meus filhos agarram-se a mim e pedem-me para ficar, não entendem o porquê de não ficar numa noite como esta.
Dizem-me que os pais dos amiguinhos ficam para jantar e que no final, abrem os presentes, todos juntos.
Eu tento explicar, mas não consigo segurar as lágrimas que teimam em cair.
Este conflito interior persegue-me há muitos anos.
Até há bem pouco tempo estava em Lisboa e ficava sem os ver por mais de 8 dias seguidos, chegava a ser cruel.
Aniversários, Páscoas, Natais, festas e reuniões no colégio, quando estavam doentes ou quando precisavam de apoio... falhei a quase tudo.
No fundo, eles não cobravam nada porque ainda não percebiam, mas eu sempre senti esta dor de não poder estar perto deles e por não poder ajudar a minha mulher que tanto se sacrifica para compensar a minha ausência.
Sempre pensei que quando viesse para mais perto de casa, tudo seria mais fácil e agora, depois de 15 anos, percebo que não é bem assim.
Eles cresceram. Hoje cobram a minha presença dizendo-me que nunca estou quando faço falta. Sabe Deus o quanto me custa ouvir isto. Sinto que falhei como Pai e como marido.
Deixo a minha família nesta noite para proteger as famílias de outros que não conheço.
Proteger pessoas que muitas vezes apenas nos sabem apontar o dedo e criticar.
Não percebem o quanto fazemos e acima de tudo, da forma como o fazemos.
Quando ouço ou leio essas críticas, fico chateado... Fico angustiado. As pessoas não entendem que não fazemos mais porque não podemos. Que não fazemos mais porque não temos meios para o fazer.
Hoje por exemplo... Somos apenas 2 Polícias para a cidade toda. Temos milhares de pessoas para proteger e somos apenas dois.
Não podemos estar em todo o lado. Não conseguimos!
Sabes Pai Natal, escrevo-te esta carta porque estou desiludido.
Ninguém parece reconhecer o nosso valor. Nem os próprios políticos parecem importar-se com aquilo que fazemos pela sociedade.
Hoje quando entrei na camarata para me fardar, ainda de rosto fechado por ter deixado a minha filha a chorar, reparei que caía água pelo teto diretamente em cima do meu armário. Se visses isto Pai Natal...
Temos condições miseráveis.
É tanta humidade e bolor nas paredes e teto, que as baratas tornaram-se uma companhia diária.
Que desespero!
Acabo de vir de mais uma Violência Doméstica.
Por ser noite de Natal, marcou-me mais do que é habitual. As pessoas pensam que somos robôs, mas não somos.
Que horror ver aquelas crianças a chorar... O que vão recordar da noite de Natal?!? Coitadas.
Sabes Pai Natal, ia pedir-te um presente, mas depois disto, apenas desejo que esta noite passe rápido.
Quero muito chegar a casa para abraçar os meus filhos e pedir-lhes desculpa por não ter estado presente mais uma vez."