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quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

A SARDINHA E A GAROUPA

  Na aldeia lafonense onde despertei para a vida, com uma frequência de uma vez por semana, ouviam-se os estalidos dum foguete, de fraco efeito sonoro, que diziam ser "fogo pequeno". Os habitantes sabiam que acabava de estacionar no centro do povoado o carro da sardinha, que afiançavam ser de corrida e transportada desde Espinho. As "donas de casa", depois de depositarem uns centavos num dos bolsos do avental, em passada larga, confluíam para o local de estacionamento e aviavam-se, enquanto aproveitavam para actualizar as novidades da terra com as vizinhas que, muitas vezes, só encontravam á saída da missa dominical. Depois da venda, o "sardinheiro" arrancava para outra povoação próxima, de onde se voltava a ouvir o som daqueles foguetes de cana fina, o tal fogo pequeno! Ontem, ocorreu-me este costume de muitas décadas, que este escriba já por cá anda há muitos anos, quando, desde manhã cedo até à noite, passei o dia a ouvir morteiradas. para os lados de S. Bento. Do fogo grosso, daquele que parece competir com os trovões. Notei a diferença e, pelo eco mediático, a que não faltou o brilho psicadélico das luzes da ribalta televisiva, pensei ser o camião dum vendedor de garoupas. Não era! Eram sim, os vendedores de ilusões e de outras bugigangas, anunciadas como desculpas tão falsas como algumas promessas, que vendem ao desbarato com os tiques de arrogância de feirantes sem vergonha. Que a sardinha, tal como foguetes pequenos, são peixe barato e o polvo, como os foguetes, quanto mais cresce mais caro nos vai saindo!