Ontem, ao ver e ouvir o Jorge Coelho, na Quadratura do Ciclo, sentado na cadeira do seu ponta de lança partidário, lembrei-me, vá-se lá saber porquê, do propósito que o António José Seguro vem repetindo nos últimos dias, de tudo fazer para separar o Poder Económico do Poder Político. Eu e, decerto, muitos milhões de portugueses, mesmo descrentes, por outras mil razões, da capacidade de Seguro em ter remos para levar esta Barca a bom porto de abrigo, é óbvio, que só lhe podemos louvar o desígnio de deixar com Deus o que é de Deus e a César o que é de César.
Sem vir aqui com ladainhas laudatórias, seja de quem for, aquele propósito de separação daquelas águas, fez-me recuar no tempo, que muitos disseram ser, de "santanices". Estava o Pedro Santana Lopes com alguns dias de Governo, herdado do "Cherne" que foi procurar asticot para águas mais frias, quando, em plena Assembleia da República, alto e bom som, com trejeitos de estar determinado, disse que iria taxar mais os Bancos e as mais valias dos grandes grupos económicos.
Naquele preciso momento, pensei com os meus botões, os da barguilha, que vestia uma t-shirt, "este gajo vai à vida"! E foi, não decorreram muitos dias...
Dir-me-ão, e eu até acredito, mesmo que ele nunca haja incorporado a minha caderneta de santos cromos, que Jorge Sampaio, o Presidente da República de então, não o iria demitir pelo seu propósito de ousar beliscar os interesses do intocável Capital.
Não haveria disso necessidade. A manifesta intenção de Santana Lopes, não terá agradado a um vasto leque de gente da Causa, a começar pelos parlamentares que o escutavam e que, para lá de uma ou outra intervenção na Casa da Democracia e dumas sonecas mal disfarçadas, eram, também, juristas, técnicos disto ou daquilo, assessores, deste ou daquele grupo económico, para lá, provavelmente, de membros do seu próprio Governo que haviam estado ou iriam estar nos pelouros das grandes Empresas. Não terá colhido as graças desses mesmo poderosos e influentes donos do vil metal, que, para lá de parte directamente interessada, eram os detentores dos órgãos de comunicação social, televisões, rádios e jornais, e todos sabemos a força manipuladora que está associada a quem nos vende notícias, gere a mente de muitos e os induz no voto.
A caldeirada ferveu, em poucos dias, Santana foi-se queimando, e quando já estava no ponto, foi servida numa terrina a Sampaio que a despachou, de pronto!
Bem sei que, também os grandes grupos económicos e os Bancos, no espectro actual, já não terão, só por si a força que os animava nos primeiros anos do segundo milénio desta terra de espertalhões, mas, ainda têm muita, e, que ninguém se iluda, mesmo que Seguro viesse a reunir em si a graça dos papelinhos em urnas, o seu destino está traçado...
Do outro lado, suponho que terá toda a artilharia económica, os praticantes das uniões de facto entre o Estado e os Grandes Grupos económicos, que, para que os ratos cheguem ao queijo não pode haver nenhuma barreira, fronteira ou rede mosqueteira, a separá-los e terá, como no efémero deslumbramento governativo de Santana, uma grossa fatia da CS a zurzir-lhe nas orelhas.
Politicamente, Seguro já é um nado morto!
Lembrei-me disto, quando vi e ouvi, ontem, a Quadratura do Círculo e rastrear os guerreiros da hoste que lhe é, internamente, adversa, a de Costa, ou de quem lhe deu estandarte para ir à luta!