... com as três Princesas no mesmo Castelo!
Sempre que, pelas terras por onde tenho passado ou fazendo vida, me perguntam pela naturalidade, só tenho duas formas de satisfazer a curiosidade dos interlocutores. Se os tomo por conhecedores daquele rincão da Beira Alta, sou do Concelho de Vouzela, para os alfacinhas empedernidos, lapas agarradas à sua rocha mourisca, e pouco afeitos a mapas do Interior, sou de Lafões!
Todos temos sonhos, por mais disparatadas que sejam as teias que se vão urdindo no Pensamento. Ideias desenhadas em telas efémeras, que se degradam com o evoluir do tempo e do modo.
Quando, no ímpeto reformista, se partiu para a redução do número de autarquias, com uniões de facto de algumas freguesias, sem discutir da bondade da bitola que as justificou, a todas ou a cada uma delas, pensei sempre que a medida não deixaria de contemplar, também, alguns municípios. Não aconteceu. Por falta de coragem para saltar as barreiras dos interesses instalados ou por outras opções de natureza política, ficaram, como muitas instituições deste País, intocáveis, nos seus redutos de orgulho e tradição.
Havia sido, então, que o sonho ou o devaneio projectado nas nuvens, num assomo de ingénuo lirismo, me tomou conta do espírito. Imaginei um Grande Lafões, com S. Pedro do Sul, Vouzela e Oliveira de Frades, as três princesas de quem o Vouga se enamorou, unidas num grande Concelho, com um só e Grande Município, numa fusão de interesses, numa comunidade fortalecida e unida pelos fios dos desígnios que lhes são comuns, com mais energia para alcançarem o desenvolvimento , o que a força que cada uma delas, de per si, não consubstancia.
Depressa, se desvaneceu, para lá dos cumes das serras que protegem aqueles três concelhos do vale encantado, o sonho que, reconheço agora, não terá passado disso mesmo.
Quando Vouzela se afirmou como Capital da Vitela de Lafões, vi e ouvi, gente de outros concelhos, pretenderem que o selo das vaquinhas também andavam pelos campos seus, nos pastos do seu território. Não muito diversa foi a reação de outros, logo que Oliveira de Frades alardeou, com toda a justiça, ser a Capital do Frango do Campo. Que, São Pedro do Sul, por condições naturais é, de há muito, a Capital do Termalismo e essa ninguém teria a ousadia de pôr em causa! Mas, foi em mais um aniversário do histórico Foral de Lafões, que as circunstâncias me convenceram de que, mais do que os povos daquelas terras, que continuam unidos e numa convivência de irmandade plena, a Política local e as "partidarites agudas" de que padecem alguns "ilustres" daquelas terras, inviabilizariam qualquer projecto de união e de força convergente no Progresso e no Futuro dos três concelhos. Só faltou rasgar o Foral, negar a História, apagar o Passado, num alardear de ciúmes que não têm razão de existir, e não existem, no sentir das suas Gentes.
Foi sonho, foi quimera, fabulação, lirismo. Foi tudo disso. Por enquanto. Que o Tempo não pára aqui, o Futuro é insondável e, como soe dizer-se, "o que tem de ser tem muita força"!
Enquanto esse tempo não chega, que se vão entendendo, unindo esforços conducentes ao bem estar dos lafonenses, que dialoguem e discutam objectos de interesse comum e que nunca sejam comadres desavindas, ciosas do pedaço que julgam só seu, ao ponto de desmoronarem o que, mesmo assim, ainda é o belo e forte monumento de que são peças, LAFÕES!
Vouguinha
Imagem: foto daqui