VIDA VELHA!......
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Navegue....e mergulhe, está num rio de águas límpidas!
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terça-feira, 31 de dezembro de 2024
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
sábado, 21 de dezembro de 2024
sexta-feira, 20 de dezembro de 2024
domingo, 15 de dezembro de 2024
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
A SARDINHA E A GAROUPA
Na aldeia lafonense onde despertei para a vida, com uma frequência de uma vez por semana, ouviam-se os estalidos dum foguete, de fraco efeito sonoro, que diziam ser "fogo pequeno". Os habitantes sabiam que acabava de estacionar no centro do povoado o carro da sardinha, que afiançavam ser de corrida e transportada desde Espinho. As "donas de casa", depois de depositarem uns centavos num dos bolsos do avental, em passada larga, confluíam para o local de estacionamento e aviavam-se, enquanto aproveitavam para actualizar as novidades da terra com as vizinhas que, muitas vezes, só encontravam á saída da missa dominical. Depois da venda, o "sardinheiro" arrancava para outra povoação próxima, de onde se voltava a ouvir o som daqueles foguetes de cana fina, o tal fogo pequeno! Ontem, ocorreu-me este costume de muitas décadas, que este escriba já por cá anda há muitos anos, quando, desde manhã cedo até à noite, passei o dia a ouvir morteiradas. para os lados de S. Bento. Do fogo grosso, daquele que parece competir com os trovões. Notei a diferença e, pelo eco mediático, a que não faltou o brilho psicadélico das luzes da ribalta televisiva, pensei ser o camião dum vendedor de garoupas. Não era! Eram sim, os vendedores de ilusões e de outras bugigangas, anunciadas como desculpas tão falsas como algumas promessas, que vendem ao desbarato com os tiques de arrogância de feirantes sem vergonha. Que a sardinha, tal como foguetes pequenos, são peixe barato e o polvo, como os foguetes, quanto mais cresce mais caro nos vai saindo!
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
MOLUSCO ALTERNADOR
Os actuais dois vendedores de sorrisos e ilusões, que o terceiro, ao estilo romeno, para eles não conta, agarrados a tábuas mentirosas de salvação, antes que a maré os leve a todos de vez, o que de há muito tarda, alguém lembre que, remexendo na linha do tempo, antes de assaltarem o poder que outros ganharam em eleições passadas, e quando urdiram aquela plataforma híbrida, que ficou no nosso imaginário com o título de "geringonça", já sabiam das Contas do rosário público, mas o que lhes interessava mesmo era chegar ao pote, onde já havia algum do mel, que é doce, o dos sacrifícios do enxame popular. As desculpas gastas e esfarrapadas de que a galinha pública anterior não tinha ovo, já não colam nem convencem ninguém, por mais que eles tentem meter os dedos, não no da galinha, mas no olho de quem papa deste milho mentiroso e transgénico! Que ninguém desconhece que Portugal, se levantou, com medidas duras e sofridas para o Povo, por ter ficado teso e a pagar os calotes, desde que um seu correlegionário, em 2011, nos deixou na bancarrota , pediu esmola às instituições internacionais, e chamou a Troika! Não é assim que pensa o candidato mais "geringonceiro" que já chegou ao trono socialista, o tal que fazia tremer as pernas dos que nos valeram, quando o seu partido deixou Portugal á míngua! Que ninguém se iluda. O problema até nem é tanto dos maquinistas, seja um ou outro, com aquela máquina viciada, gripada, Portugal jamais sairá desta miséria e vil tristeza! Ou sequer fritará o polvo! Que este molusco de alterne tem muitos tentáculos! A não ser que os portugueses despertem de vez da anestesia a que o Povo foi submetido durante 50 anos!
domingo, 8 de dezembro de 2024
sexta-feira, 6 de dezembro de 2024
SEITAS
DA DROGA!
Desmantelado em Portugal um dos maiores laboratórios de droga da Europa (CNN)
Os "engenheiros químicos" serão quatro portugueses, dois colombianos e um marroquino.
Volto a lembar-me da "estória" que me foi contada por um idoso transmontano, que com os "velhos" também se aprende.
Na Raia de Chaves, em anos distantes, para lá de outros bens, contrabandeava-se gado, de cá para território de "nuestros hermanos". A Guarda Fiscal não tinha descanso. Os contrabandistas, tal como os prevericadores dos nossos dias, apuravam as artimanhas. Uma delas, era telefonarem para o Posto da Guarda Fiscal denunciando a passagem num determinado local duma manada de vacas, rumo a Espanha. Os homens de farda, saltavam para a carrinha e dirigiam-se ao local combinado, onde surpreendiam meia dúzia de bezerras a passarem a fronteira. E por ali ficavam longas horas, na operação de recuperação do gado e em busca dos infractores nas imediações. Ao mesmo tempo, a uma escassa dezena de quilómetros, os contrabandistas faziam passar mais de uma centenas de bezerras para o lado espanhol, com perfeito á vontade.
O que me leva a pensar que, de cada vez que se faz uma apreensão de droga neste País, quantos carregamentos não estão a entrar, sem que sejam detectados.
Portugal tem ninhos de víboras instalados no território e os responsáveis pela Segurança já não terão capacidade os desmantelar. O passar do tempo agrava a situação, até que ela seja insustentável.
Queria estar enganado!
O FUNDADOR
Faz, hoje, 839 anos que feleceu em Coimbra o Fundador desta Nação, que, tantos anos depois, alguns trairam!
TRAIDORES
«Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias, com profano
Coração, vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes.»
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
SAÚDE EM LAFÕES
Enquanto se assiste ao "Turismo de Saúde", com um corropio de grávidas das mais recônditas paragens a recorrerem ao parto nas nossas Unidades de Saúde, os portugueses reclamam por um Serviço de Saúde capaz,, por médicos de família, vagas para Consultas e Cirurgias e Urgências no Interior.
Mas, debater este e temas similares, é correr riscos de insultos, desde "xenofobia" a "radicalismo"!
Do
Mas, debater este e temas similares, é correr riscos de insultos, desde "xenofobia" a "radicalismo"!
Do
Este sábado, dia 7, os protestos contra o encerramento “vários dias por semana” do serviço de urgência básica (SUB) de São Pedro do Sul prometem subir de tom, com uma marcha lenta e um buzinão pelos concelhos de Lafões. A falta de médicos e o mau funcionamento estão entre as queixas da população.
A manifestação, que é organizada pelo Movimento de Utentes de Serviços Públicos, começa pelas 10h00, junto ao Largo da Feira de Oliveira de Frades.
TEATRO BURLESCO
CENAS DO TEATRO MEDIÁTICO
- Menina Anabécula, quem despejou o tinteiro na secretária?
- Só pode ter sido o Chega, Setora!
- Menino Arsénico, quem partiu a jarra da Sala?
- Modista Má Fralda, quem avariu aquela máquina de costura?
- Só pode ter sido o Chega, Patroa!
- Margarita do Vinho, quem deixou aquela, pipa cheia de sarro?
- Só pode ter sido o Chega, Senhora Enóloga!
- Aninhas dos Comes, quem cortou o cravo daquele vaso?
- Só pode ter sido o Chega, Senhora Jardineira!
- Maninho da Krosta, quem é o dono do cão que defecou no passeio?
- Só pode ter sido o Chega, Senhora Zeladora.
- Menino Bais Dala, quem foi que cuspiu no chão?
- Só pode ter sido o Chega, Madrinha!
-Para todos, quem foi o menino que nunca assaltou o Pomar do Zé Povinho?
terça-feira, 3 de dezembro de 2024
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
BUFOS ANÓNIMOS
Alguém sabe dizer quantas queixas terão chegado ao Ministério Público por este acto em Monumento Nacional?
domingo, 1 de dezembro de 2024
domingo, 24 de novembro de 2024
sexta-feira, 22 de novembro de 2024
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
sábado, 16 de novembro de 2024
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
sábado, 9 de novembro de 2024
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
ESTADO DE DIREITO
Tenho acompanhado a maioria dos comentadores, especialistas e alguns residentes nos Bairros das ocorrências.
O que lhes ouço? De forma quase unânime, uns bem intencionados, outros com discursos duvidosos, de que o problema estará na preparação dos policiais. Eu não sei se a formação é a ideal ou não, mesmo não enjeitando que quanto mais instrução de qualidade, melhor será o desempenho.
Mas, fica a pergunta retórica: alguém ouviu alguns desses doutos mediáticos apelar para que as ordens dos policiais sejam acatadas, sem rebuços e agressividade? Seguindo, aliás, um tema bem conhecido, de que quem não deve não teme?
Que é uma humilhação sentirem-se abordados ou até revistados por agentes da Ordem? Não será! Não é o homem fardado que têm à sua frente que os aborda ou revista. è o exercício da autoridade do Estado, que sente necessidade de o fazer.
FALTOU ESSA MENSAGEM!
Mas, convenhamos, só não sabe quem não quer, quem anda há anos a incutir nessas comunidades a aversão aos polícias. Quem porfia retirar empenho às Forças de Segurança. Quem, voluntaria ou involuntariamente, lhes alimenta a raiva contra a imagem dos representantes da Autoridade!
E, este âmbito, não se aplica a negros, brancos, azuis, residentes na Quinta da Marinha ou na Brandoa, no Restelo ou na Cova da Moura. Bandidos não têm côr, origem ou Religião, mesmo que indivíduos menos estruturados civicamente possam ser mais propensos a actos reprováveis ou criminosos!
Porque, no fim, sabemos que só têm razões para temer as forças da ordem, quem incumprir ou viver no mundo do crime.
Pessoas de bem, não devem temer, nem se sentirem humilhados por serem abordados ou revistados, em situações de dúvida. E, em casos de excessos injustificáveis, o facto de este ainda ser um Estado de Direito confere a possibilidade de denunciar ou reclamar dos actos que não se enquadrem nas normas legais ou regulamentares. Que, nem os policiais estão acima da Lei.
O que não podemos é confundir Bandido com Cidadão de Bem. Não dar a imagem mediática que tem passado nalgumas montras de que os bandidos são os agentes de autoridade e os que infringem a Lei e desobedecem a ordens legais, são as vítimas.
Isso será, sem apelo nem agravo, a negação dum Estado de Direito!
sexta-feira, 25 de outubro de 2024
terça-feira, 22 de outubro de 2024
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
CONTO ARQUIVADO (VI)
VI
É que o Rei da Selva incomodava-se perante um ajuntamento grande e barulhento, habituado que estava à sua vida de anacoreta da mata silenciosa. E era com passada pachorrenta, com desprezo manifesto, que se virava, abanando a cauda, à arruaça que, do género, se lhe deparasse.
- Está tudo bem, mas onde encontrar agora o bicharoco? – e o Carlos olhava interrogativo para os seus pares.
- Nosso sabe, senhor, garramo tem além -, e o Momola apontava para a encosta arborizada do planalto ao fundo, e rematava, decidido: - tem junto do monte. Nossa gente leva lá...
- Vamos, então.
E o pequeno exército pôs-se em marcha pelos carreiros das machambas de mapira alta, de campos de milho com maçarocas douradas ao sol brilhante. Aqui e ali, iam ficando faixas rasteiras de amendoim e, mais adiante, fartos cachos de banana marrouce, dependuradas de troncos com larga folhagem.
Representava tudo o que ia vendo a base de subsistência, da vida daquela gente, numa economia mista, recolectora/produtora. Não era aquela, ainda, uma sociedade de consumo. Era a vitalidade de uma terra forte, que ofertava os frutos na medida do trabalho de cada um: quase sempre suficientes, sem excedentes, mas sem graves faltas.
Aproximavam-se já do monte, em cujas fraldas, de vegetação cerrada, estaria o refúgio do leão devorador. Mas nem o Momola, nem ninguém da aldeia, sabia indicar ao certo o local, tão vasta era a área.
- Vamos fazer a batida por bocados, Sanica?
A ideia era dividir toda a zona arborizada, entre a clareira e o monte, por faixas a bater.
Dividiu-se o pessoal: o da batida (a barulhaça) para um lado, os armados, para outro.
E a festa começou!
- Senhor adjunto, nós é melhor ficar ali. -, o Sanica apontava para um morro de mochem, abrigo natural para a espera. Os dois cipaios e o caçador foram-se, também, dispondo na zona.
Já o Carlos sentia um leve tremor do corpo, uns arrepios gélidos em sol escaldante, mas que se iam diluindo na azáfama. Tinha a impressão, sentia-o ao fitar os rostos excitados dos outros, que com feras daquela estirpe não se brinca.
Fosse pelos nervos, fosse pela fome – estava em jejum – o cara-pálida sentia um palpitar doloroso no estômago, quando se acocorou numa pequena saliência do morro baixo.
Era quase meio-dia. Um silêncio sepulcral dominava o ambiente. Nem um leve esvoaçar da passarada; nem o cair duma folha seca; o rastejar furtivo de uma cobra ou a corrida elegante e vaidosa de uma gazela!...
De repente, como o estropear da fúria louca de uma manada de elefantes rasgando a selva, como o alarido raivoso de mabecos em luta pela posse de um javali, a serra ecoa, o ar sacode-se. Todos aqueles tambores rufando, latas chocalhando e os sonoros berros das gargantas fortes dos nativos da batida, na outra orla da mata, impressionavam mais que o sapatear raivoso do nosso Parlamento em dias de polémica orçamental ou períodos eleitorais...
A selva tremia, o barulho aumentava, na justa medida que os batedores íam cruzando a mata em direcção aos emboscados. Só que já estavam bem perto, sem que o rei da selva aparecesse. Nenhum disparo soara, até ao momento.
- Ei, Sanica, o gajo não está cá! – diz o Carlos, quebrando a concentrada atenção do cabo, a focar a mata, rígido que nem uma marmota congelada.
- Parece não está, senhor -, sem, contudo, retirar os olhos desorbitados do arvoredo.
E não estava, de facto, naquela faixa. Deu-se o encontro dos dois grupos e leão nem vê-lo!
Curiosamente, nem um coelho, uma gazela, um javali, nenhum animal passara em frente dos emboscados. A esta constatação do adjunto, observou o caçador, com segura convicção:
- Pois não tem outro bicho, porque leão está por perto. Nosso vai encontrar, já viu patada dele...
O Carlos ficou a saber que numa área considerável em redor do palácio do rei leão, não havia lugar para outros animais menores: os súbditos, amedrontados, fugiam perante a presença ameaçadora do seu despótico amo.
E, a ser assim, nada estava perdido, tanto mais que haviam fortes indícios apontando para a presença próxima do devorador. Ía tentar-se a faixa seguinte.
E a operação repete-se.
Desta feita, à falta de outro abrigo, o Sanica sugeriu ao Carlos uma árvore velha de melala bifurcada. Era este o poleiro de espera para o mocunha, com a pele ardendo sob a inclemência do sol dum fim de manhã. Por baixo, brilhavam as micas soltas duma ribeira, seca naquela época do ano.
Enquanto esperava, de novo, ía pensando na sua posição caricata, qual ave no choco e deu consigo a conspirar surdamente contra o Sanica por lhe ter alvitrado aquele poleiro de abutre medroso. O sacana do cabo pensaria que ele tinha medo?!...
Mas, intimamente, até se sentia bem posicionado. Do pouco que sabia, os leões não voavam, ali não haveria perigo. Mas não se desvaneceu de todo aquele tremor dos dedos...
A algazarra recomeçara, ao longe. De novo os tambores, as latas, os apitos, os berros musicais do outro grupo, que se ía aproximando.
De repente, bem ao lado, soa um tiro. O Carlos, estendido num ramo, redobra de atenção, com a pistola metralhadora bem aperrada, pronta a disparar...
Tac..., tac..., tac..., o coração batia-lhe como cavalo em solto galope na pradaria. O suor aumentava-lhe no rosto, o ar faltava-lhe nos pulmões, quando, mesmo por baixo, a uns escassos três, quatro metros, na vertical, o nosso leão, com as patas enterradas na areia, olhava pesadamente para um e outro lado da ribeira, desconfiado. Ouvia-se nitidamente a densa respiração da fera, uma bisarma medonha, grande, nutrida...
O Carlos agiu, então, como um autómato; o seu consciente estava às portas do bloqueio, em presença de tão leonina figura. Ensaiou uma duvidosa pontaria na direcção do monstro e disparou uma rajada breve, sem se preocupar com a escolha dos pontos mais vulneráveis; bastou-lhe divisar a massa enorme do bicho na mira e carregar no gatilho.
Era difícil, quase impossível, não acertar, de cima para baixo, àquela distância!
Mas, ao contrário do que pressupunha, aquele não tombou: soltou um urro arrepiante e empreendeu um salto descomunal, embrenhando-se pelo capim alto.
E o nosso jovem manteve-se quieto, mudo e surdo, por uns instantes. Veio-lhe, depois, um pensamento derrotista: falhara..., e saltou da árvore. Na areia seca, nem um pingo de sangue. E ia cogitando: mas era impossível não lhe ter acertado!...
Procurou o Sanica com os olhos, mas o cabo não estava à vista e continuava a remoer no sucedido, quando troaram dois tiros de caçadeira, mais além. Mas manteve-se no local.
- Senhor, já está! O gajo já morreu, tem ali..., o caçador Sacura encontrou caído lá... -, gritava o Sanica, entusiasmado.
- Encontrou caído?! Mas não foi ele que o matou com aqueles dois tiros? – interrogou o Carlos, já bem mais animado.
- Não, não senhor, - voltou o cabo, - o gajo já estava sofrer p’ra morrer, com tiros do senhor adjunto. Sacura deu tiros para segurar ele, que leão ferido fica perigoso mesmo...
Começou a desvanecer-se aquela sensação amarga do fracasso. Afinal, acertara-lhe!
Quando chegou, com o cabo, junto do animal moribundo, o Sacura fez questão de lhe mostrar os três pequenos furos com que o Carlos o havia atingido na espádua. Só que, como aquele continuou a explicar, aquela zona do corpo é dura, não dá para matar logo, com balas de 9 mm. Ele, sim, atirara como um bom caçador: bem na cabeça do gigante..., os zagalotes desfizeram-lhe o focinho...
Mas já um verdadeiro festim começara.
Uns cantavam, outros dançavam, fez-se batuque com o rufar dos tambores; vieram mamanas, vieram catraios, um mar de gente em delírio fez círculo em volta do odioso assassino.
O Carlos sentia-se baboso com tanta e espontânea lisonja, tanto kuerine, tantos beijos de ousada gratidão que as moçoilas lhe iam depositando na face!
Bem real, era para aquela gente o fim de um pesadelo e, também, o vingar dos seus mortos; o castigo do criminoso ditado por um código penal que de pimentel nada tinha...
E a festa continuou ali mesmo, agora com um estranho ritual, nunca visto: toda aquela gente alinhou em fila e, um a um, ao som de afinado cântico, foram espetando uma lança, passada de mão em mão, na cabeça da fera assassina.
Já eram quatro da tarde daquele agitado domingo quando o cadáver, após ter sido arrastado até à aldeia, foi carregado, por uma dezena de braços fortes, na caixa do jipão. Era o regresso. Antes, porém, ainda no povoado, fora o almoço: frango à cafreal com xima e sumo de caju não faltaram, que toda a gente se dispunha a presentear quem, a seus olhos, eram os seus salvadores. Para o Carlos, apesar dos insistentes protestos, ia uma cangarra de galinhas e um cacho de bananas. Eram pessoas generosas na sua pobreza, gratas na sua humildade, os macúas.
- Senhor, eu pode ir? – perguntou o régulo Momola, rodeado pelo seu povo. – Vai dar-me um pouco de xicuembo? Referia-se à gordura que reveste os intestinos do leão.
Entre os macúas e até de parte da colónia de indianos e europeus, era convicção ser aquela gordura um excelente remédio para o reumatismo e até muitas doenças do foro íntimo, como a impotência.
- Mas o leão é vosso! Podem fazer dele o que quiserem!...
- Não, senhor é dono de leão. Quem mata é dono, pode fazer o que quiser dele, - interveio o Sanica, para dar a conhecer mais um dos costumes ancestrais dos nativos.
Já o motor do jeep roncava alegre, de novo na picada. Desta feita, com mais cuidado, não fosse, mais uma vez, a ponte tecê-las...
Chegaram tarde ao largo do posto. Já os miúdos da missão, em visita à sede administrativa, brincavam chilreantes, após o arrear da bandeira.
O administrador, sentado com a mulher e filhos à sobra duma frondosa bugambília, dirigiu-se-lhes apressado e interrogativo.
-Então, Carlos, que tal a caçada? Já estava preocupado com tanta demora! Oh, mas que grande bicho!... – largou, estupefacto, ao debruçar-se no bordo da viatura. - É um grande bicho!
Surgem as explicações de toda a ordem; o onde, quando, como e porquê; dão-se parabéns, vai chegando mais gente, curiosa.
A notícia corre célere e aparecem, também, os europeus da terra: o Fonseca da cantina e a mulher, o Carvalho do algodão e as filhas, e pessoal do aquartelamento militar, que apenas ali se encontrava aquartelado por questões de quadrícula, pois não havia qualquer conflito latente na região.
Todos se encontravam ali mais empenhados em registar na película a sua momentânea comunhão com o senhor da selva.
Os de camuflado não deixariam de enviar uma foto de ocasião às suas madrinhas de guerra, saudosas, em Portugal.
E durou horas aquela peregrinação fotográfica, a quebrar a monotonia sertaneja dos pacatos dias de Balama, enquanto o administrador Barbosa ía passando o tempo a lamentar o exagerado esburacar da pele, que a deixava pouco fiável para a sua desmesurada colecção de curtumes, na salgadeira do armazém.
Quanto ao Carlos, esse tivera direito a algumas duras unhas de leão. Se para mais não servissem, ajudá-lo-iam a esgadanhar nos escolhos que se lhe foram deparando na encruzilhada da vida.
Por longos anos, se foi falando no norte de Moçambique do tristemente célebre “leão dos 16”.
Mas, triste sorte, negro fado o daqueles macúas, pois antes, então e depois, foram sempre vítimas de leões, se calhar mais carniceiros que aqueles, com jubas de todas as matizes... E dessas feras, nem Carlos, nem Sanicas, nem Sacuras os puderam livrar...
Quanto ao autor, tendo passado ao papel este seu conto já lá vai mais de uma dezena de anos, só agora ganhou coragem para o compartilhar, mais por temor àqueles cartazes que se vão vendo em alguns estabelecimentos de venda de armas: “Aqui se juntam caçadores, pescadores, advogados... e outros aldrabões”.
Mas vale a pena correr o risco, suplantado pelo testemunho do maravilhoso fascínio das terras moçambicanas, na sua original e genuína natureza!
- Francisco José Branquinho de Almeida - 1978.
CONTO ARQUIVADO (V)
V
O sol quente, trémulo de fogo, trepava, apressado e irreverente, pelas vastas escadas do horizonte, quando, finalmente, atingiram o Lúrio. Era um rio pouco caudaloso, mas um viajante longínquo, nascido lá para os contrafortes do Niassa: deixava, ao passar, uma vegetação luxuriante a embelezar as margens sonhadoras...
Para o atravessar, o régulo Momola e a sua gente, haviam, anos antes, lançado mãos da sua empírica engenharia artesanal: compridos troncos de árvores, dispostos de uma lado ao outro do rio, revestidos por esteira pacientemente urdida por mãos habilidosas, de bambus entrelaçados.
Mas era precisa muita atenção ao efectuar a travessia auto daquela ponte, pois fora idealizada e projectada bem à maneira daquela gente: à medida da largura da viatura utilizada pelo administrador, e nada mais...
Ao Carlos, novato naquelas travessias, mais acostumado a travessuras, não ocorreu que urgia reduzir a velocidade, para galgar sem problemas os primeiros troncos e... zás, o carro salta, estrebucha, o capô abre-se, corta literalmente a visão... o jeep segue, bate... e pára.
- Senhor, tem bom? – interrogam os olhos arregalados do Sanica, fitando o Carlos como se ele acabasse de fugir das amarras do purgatório.
- Não é nada! -, olhando para os lados e para trás. À frente só via aquela chapa cinzenta, barreira que lhe havia ocultado uns bons dez metros de ponte, estreita, como já vimos.
E o jovem Carlos, com nervosismo comprometido, acabou por se rir, quando perspectivou a frio a ridícula cena que durou segundos e podia ter absorvido anos de vida.
Lá para trás, bem no meio da ponte, os dois cipaios estavam ainda sentados, boca entreaberta, olhando, mudos, as águas impávidas e serenas correndo lá no fundo, a uns bons trinta metros. As suas armas estavam tombadas, em desalinho, na caixa da viatura. E pensou, refeito do susto, como teria sido possível atravessar toda a ponte daquela forma...
- Tens de perguntar ao Mussa como é que ele traz o capô solto! Aquilo não se solta de qualquer maneira!-, como se quisesse transferir para o pobre mecânico/desenrasca lá do posto, a sua azelhice e inexperiência, ali tão evidente.
O Sanica não respondeu e, quando ambos saíram do jeep, olharam ao mesmo tempo para os duendes perdidos na floresta, interrogando-se qual deles plantara aquele providencial jambire no azimute desvairado do carro!... Se não fosse aquela amorosa árvore, esperava-os o abismo profundo, na margem do rio...
Os dois cipaios cuspidos, ainda espantados, atravessavam já o resto da ponte, aconchegando nas cabedulas assustadas, as camisas desfraldadas pela queda livre a que se viram sujeitos.
- Vamos chovar o carro para trás! - , ordenava já o cabo aos dois cipaios. E chovaram...
Estavam, então, a uns escassos duzentos metros do povoado, onde por fim chegaram, aliviados.
O Carlos depressa esqueceu o acidente e retomou o entusiasmo pela caça que, afinal, ali o levara. Tanto mais que aquela multidão, como raramente vira, armada de zagaias, pontas de lança, arcos, flechas, catanas, machados, tambores, latas e apitos, e todo um sortilégio de instrumentos, lhe lembravam, com certa ironia, as hordas de Viriato nas serranias da Estrela.
Mas, para além do costumeiro cumprimento, uma vénia mal dobrada, aquela mole humana mantinha-se silenciosa, num descampado dominado por quatro mangueiras ramalhudas, onde pontuavam já frutos amadurados.
O régulo Momola adiantou-se ao grupo, juntando-se aos recém-chegados, acompanhado de mais três ou quatro elementos, seus conselheiros tribais,, e um outro negro, ainda novo, armado de caçadeira: era caçador privativo de um europeu de Namuno que, casualmente, ali havia acampado e se dispusera a participar na caça ao leão.
Formou-se, ali mesmo, um “conselho da revolução” da caça, em que o Carlos desempenhou a cómoda função de moderador. Reconhecia, intimamente, ser o menos credenciado para ditar estratégias. Mas mostrou-se interessado e participativo e, sobretudo, prestava especial atenção aos experientes alvitres que íam surgindo. Estava ali, mais ou menos com a função do rei de Espanha: não governa, mas é um símbolo...
O plano para caçar o leão não era assim tão complicado! Consistia tão só em formar uma linha de nativos com os instrumentos sonoros e armas rudimentares de um lado do hipotético esconderijo da fera, enquanto os elementos com armas de fogo se emboscavam nos previsíveis pontos de fuga.
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