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quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

O quarto e último postal de Fim de Ano....

... que leva o Vouguinha2 a curvar-se perante a memória dum homem frontal, cujas declarações e denuncias públicas enervaram gente de gabarito e retiraram da penumbra realidades do submundo desta sociedade atolada num lamaçal de sanguessugas.

Resta a esperança de que essa mesma sociedade aproveite a crise, um ciclo propício a uma regeneração de comportamentos e recuperação de valores como a honra e a transparência, em que a engorda dos menos escrupulosos se não faça à custa do emagrecimento daqueles que ainda navegam na barca da honestidade!

Um melhor 2011!

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Postais de Fim de Ano do Vouguinha2

A corrupção é uma das enfermidades da Economia deste país. Um crime que a Justiça vem tendo dificuldade em combater, quando ela tem lugar em patamares elevados da Sociedade, mesmo quando são fortes os indícios e fundadas as denúncias.
Sobretudo nos últimos anos, assistimos à condenação das corruptelas, "mixordices", dum almoço, dum par de botas, duma garrafa de whisky, dum sacos de batatas, daquelas "picuinhices" que não são mais que pequenos salpicos, quando comparadas com corruptos negócios que envolvem milhões e têm por palco as mais altas esferas da estrutura social e de poder.
A estes últimos "manigantes", gente sabida, esperta, influente e intocável, a Justiça não alcança chegar, tantos são os imbróglios jurídicos e os sinuosos caminhos processuais com que se depara.
Das razões dessa dificuldade e inoperância de resultados, poderemos inferir do pensamento de quatro figuras públicas que, melhor do que ninguém, conhecem as teias que se vão urdindo nas torres cimeiras deste campanário nacional.
Chegam ao Vouguinha2 em forma de quatro postais de Fim de Ano, com legítimos anseios de que o Ano Novo traga mais coragem, transparência, rigor legislativo e vergonha, especialmente a quem tem o dever de manter Portugal como um Estado de Direito, e em que todos os cidadãos nasçam e morram com iguais direitos e deveres!



O PRIMEIRO POSTAL DE FIM DE ANO:

sábado, 18 de dezembro de 2010

Feliz Natal!


O Vouguinha2 deseja a todos os que vivem ou vão passando por estas margens um Natal de alegria e Paz!


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Em tempo frio, imagens quentes de Moçambique!

Para aquecer a memória......e mitigar as saudades!

Com fotos dum lafonense, em visita.........quase 40 anos depois!








quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A saga dos ex-combatentes....


.... os tais que os diversos poderes pós 25 de Abril anseiam verem em "vias de extinção".....para que não lhes pesem nas contas dos orçamentos, lhes aliviem os serôdios remorsos....e alguns pesadelos... enquanto vão distribuindo benesses e "alcavalas" pelos boys das confrarias partidárias....

Uma reflexão escrita da autoria de Carlos Morgadinho:


A SAGA DOS EX-COMBATENTES É ETERNA

Por Carlos Morgadinho

Com o 25 de Abril de 1974 pôs-se um fim a uma guerra nas antigas províncias africana, ou colónias para quem assim as queira designar, e tudo, aparentemente, voltou à normalidade com eleições livres a autodeterminação desses ex-territórios subjugados há mais de 500 anos. Portugal voltou, finalmente, a ter a paz que sempre desejou e a ser respeitado no seio das Nações.

No entanto as mazelas duma guerra de 13 anos marcaram para sempre os ex-combatentes que foram, durante aqueles anos, enviados para a frente de batalha. Para os onze mil, que tombaram ao serviço da Pátria (sim foi esta que os chamou e os obrigou a empunhar armas para lutar contra os povos africanos daquelas nações africana (Angola, Guiné e Moçambique) a situação não se alterou pois deixaram de ser um "peso inerte" para os Governos tanto da Ditadura como do após Revolução. Mas ficaram mais de 100 mil feridos, não só fisicamente mas também emocionalmente. No que se refere aos estropiados foi criada de imediato, no dia 14 de Maio de 1974, com a queda do fascismo, uma associação de apoio e defesa dos interesses e situação desses militares que sofreram incapacidades tanto em combate como em acidentes enquanto ao serviço. Essa colectividade tem o nome de Associação dos Deficientes das Forças Armadas Portuguesas, a ADFA, que tem feito um excelente trabalho durante os processos de habilitação de incapacidades e na representação de todos aqueles a quem foram presentes às Juntas Médicas, processo muito controverso. E eu digo controverso pois muitos dos apresentados a esses painéis de avaliação são rotulados de "Normal processo de envelhecimento" e as aplicações são assim indeferidas e arquivadas e ficando no "esquecimento eterno". Claro que ao fim de 15, 20 ou mais anos os ex-combatentes estão envelhecendo e as incapacidades estão, ou foram, "camufladas" pelo P.D.I., conhecida na gíria por "Porca Da Idade", estão agora a parecer com mais frequência e de que maneira...

Também foi há bem poucos anos que o stress de guerra, ou Pós Traumático Sindroma (conhecido pelos "Apanhados") foi finalmente reconhecido como incapacidade e dado finalmente o apoio necessário no tratamento inclusive psicologicamente (não sei se monetariamente). Tenho um colega de unidade, de alcunha "O Drácula", que foi o único sobrevivente duma emboscada na região dos Dembos, em Angola (em 1965 ou 1966) e que testemunhou o massacre dos seus 9 ou 10 companheiros de pelotão, já feridos e prostrados na picada. Isso marcou-o profundamente. Nunca mais trabalhou e, em Lisboa, onde vivia, a sua cama eram os bancos dos jardins ou sob os aquedutos e pontes. Em 1998, creio que estou correcto na data, numa reunião de veteranos do meu Batalhão, o BTM361, em Setúbal, este amigo e companheiro apareceu no almoço e, solidariamente, angariamos fundos não só para pagar os custos da refeição como para arrendar um quarto numa pensão onde se pudesse abrigar incluindo alimentação para 3 ou 4 meses. Pobre amigo. Estava um farrapo humano e apenas nos seus 56 ou 58 anos de idade aparentando então 75 ou mais anos.

Então o Governo Português "ignorava" esta situação. Muitos outros sofriam de problemas de locomoção, nos membros inferiores e na coluna vertebral, pela calcificação de traumas e fracturas durante o cumprimento do serviço militar e, na sua maioria adquiridos em zona de campanha. Por esta situação nada recebiam de compensação nem sequer direito aos serviços do Hospital Militar, um dos mais bem apetrechados e com um dos melhores corpos clínicos de Portugal, ou mesmo no apoio medicamentoso para lhes aliviar o sofrimento.

Não me quero alongar mais neste meu "canto" lamurioso pois, como a maioria dos ex-combatentes, ou veteranos, nada recebo do Estado Português que me "FORÇOU" a tomar parte duma guerra que NÃO QUERIA e nem SABIA DO PORQUÊ, apenas me diziam que era para defender a Pátria Pluricultural que estava então a ser "ATACADA" e em "PERIGO?". Ganda peta.

Não sou reformado nem recebo pensões, mesmo sendo-me atribuída uma contagem de tempo ao serviço de mais de sete anos como militar e na sua maioria em zona operacional. Também não tenho assistência médica providenciada pelo Governo Português quando sou "apanhado" pelas crises quando me encontro de visita ao meu "Torrão Natal".

E a quem devo imputar todas estas anomalias ou culpas? Na minha óptica a todos os nossos Presidentes da República do após 25 de Abril mais concretamente ao Cavaco Silva (que está em vias de se sentar, mais uma vez, no Palácio de Belém), o Mário Soares e o Jorge Sampaio. Eles, os nossos Presidentes, são quem cabe o dever de proteger os seus cidadãos quando haja omissões ou grossa injustiça.

Com certeza estão à espera nestes próximos 30 ou 40 anos, quando apenas uma meia dúzia de trôpegos ex-combatentes ainda estejam no nosso convívio, para então se fazer justiça e eliminar-se esta descriminação. Somos todos filhos da Pátria Lusa e não apenas alguns a serem rotulados de... BASTARDOS.

Cumprimos o nosso dever embora estivéssemos no lado "errado" do filme. E isto é que conta e para isso é que houve o 25 de Abril e é com esta ideia de haver Democracia, Igualdade e Justiça Social é que elegemos os nossos representantes para a Assembleia da República e os nossos Presidentes.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Tirem-lhes tudo!


Notícia do Correio da Manhã:

Ministério tira net a escolas
O Ministério da Educação (ME) mandou retirar o serviço de internet de banda larga em 16 escolas do 1º Ciclo dos concelhos de Vouzela e São Pedro do Sul, afectando cerca de 350 alunos.



De acordo com as autarquias, trata--se de escolas que estavam referenciadas pelo ME para encerrar, no âmbito do reordenamento da rede escolar, mas que acabaram por permanecer abertas. "Nas férias foram retirados os modems das salas. Primeiro, a tutela disse que foi um lapso e que já tinham dado indicações à PT para repor o serviço, mas agora já dizem que não há cabimento orçamental e que tem de ser a câmara a pagar", disse ao CM o presidente da autarquia de Vouzela, Telmo Antunes (PSD). O autarca garante que não vai repor a internet. "Não está em causa o valor mas o princípio, esta é uma competência do ME".

No município vizinho de São Pedro do Sul, também de gestão social-democrata, o vereador da Educação, Rogério Duarte, considera que houve "precipitação" do Ministério. "As escolas estavam elencadas para fechar mas ficaram abertas. A Direcção Regional de Educação do Centro disse que já deu orientações à PT para repor o serviço e estamos à espera". O CM questionou o ME, mas não obteve resposta. Segundo o site do Plano Tecnológico da Educação, a banda larga está presente em 99,1% da rede escolar do País.

Não acreditamos na teoria da conspiração, mas vamos notando as estranhas coincidências: ambas as autarquias são de presidência de força partidária diversa da que sustenta o actual Governo!

Aos habitantes do Concelho de Vouzela, já tiraram a assistência permanente no Centro de Saúde; mais recentemente, privaram os agricultores de apoio técnico, tiram, agora, a internet das Escolas que pretendiam encerrar......só não lhes tiram a alma que aquela Gente não se vende nem alinha em chantagens....sejam elas políticas ou de outra natureza!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Cemitério de Mueda, Moçambique

Demos, por aqui, boa nota pela conservação do Talhão Militar de Pemba, Moçambique.
Lamentavelmente, não o poderemos fazer a respeito do local onde repousam muitos combatentes que tombaram em MUEDA, o que a SIC denunciou na sua Reportagem de ontem, passe o facto de ter registado uma intervenção após a gravação das imagens.
Por onde andará a memória desta Pátria? O respeito daqueles que derramaram o sangue por ela, por mais injusta que fosse aquela guerra?
Nem arrisco escrever mais nada ....... tremem-me os dedos de raiva!....

domingo, 31 de outubro de 2010

O TALHÃO MILITAR
















Por estes dias, recordam-se os familiares que partiram, multiplicam-se homenagens floridas pelas simbólicas e eternas moradas dos entes queridos que fecharam o seu ciclo de vida.

Não fujo à regra, curvo-me perante a memória dos familiares, dos amigos mais chegados que me antecederam na caminhada final.
Mas recordo ainda, com um frémito de tristeza aqueles que se quedaram jovens, em nome duma Pátria que os vai esquecendo.
Os pais, que viveram dilacerados na dor da perda, já se foram quase todos. Restam-lhes poucos irmãos, viúvas, filhos órfãos, incógnitos de lembrança triste dum passado que vai sendo distante. Os outros.....não sabem....ou não se recordam...
Lembram-nos sempre aqueles milhares que foram testemunhas presenciais, irmãos dos mesmos perigos, companheiros das mesmas emoções, naqueles campos de luta para onde aquela mesma Pátria os mandou guerrear.
É perante eles que me curvarei amanhã, vai para eles, como todos os anos, a homenagem do meu pensamento e o respeito pelo precoce e inútil sacrifício das suas vidas!

RIP, companheiros!


F. J. Branquinho de Almeida


A foto, deste mês e ano, de autoria do Custódio Freitas, em visita à cidade de Pemba, que o acolheu no serviço militar em 72 e 73, dá-nos algum conforto por sabermos do razoável estado de conservação em que se encontra o Talhão Militar daquela cidade, última morada de alguns combatentes. Merecem gratidão todos os que, por aquelas terras, têm contribuído para que sejam respeitadas as memórias dos que tombaram. Um abraço especial ao Senhor Claudino Abreu, ali residente!

Foi este o Povo das caravelas...



.... que sulcaram e desbravaram mares desconhecidos? Que rasgaram horizontes em busca de novas terras?


O Povo foi o mesmo......mas a Gente era outra!....IMPERDÍVEL!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Vampiros em terra nossa


Desde há alguns dias que uma questão me assalta....e apoquenta:


A MÁFIA está a vir para Portugal em fuga à Justiça Italiana, ou apenas para se juntar à Família?!

domingo, 24 de outubro de 2010

Imagens que transmitem beleza e tranquilidade....

... estas duma zona turística da República Dominicana, captadas no início deste mês de Outubro....



















































sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pela vossa saúde...


... senhores mandantes deste País em fuga para o Litoral, parem com o frenesim "desertificador" das regiões serranas!

Não vamos fazer história do que tem representado para as populações do Interior, o encerramento de Centros de Saúde, Escolas e outros serviços públicos. Disso já fomos dando nota, e reprovando, mais pelos critérios do que pelo propalado princípio de racionalizar os recursos e adequar os Serviços às reais necessidades de cada povoação.

E não se nos afigura medida ponderada e criteriosamente decidida, encerrar uma Extensão de Saúde duma povoação serrana, a cerca de 35 Km do Centro de Saúde localizado na vila sede de Concelho, onde, a maioria dos seus 800 habitantes são pessoas idosas, sem automóvel, sem filhos que os transportem e sem dinheiro para pagarem táxis.

Manhouce, a terra que deu luz à linda voz de Isabel Silvestre, é uma freguesia do Concelho de São Pedro do Sul, no maciço da Gralheira, atravessada pela conhecida via romana que ligava o Porto a Viseu, foi uma das últimas vítimas destes encerramentos que, castigando gente isolada, é mais um triste contributo para a desertificação que este Governo, que se diz com sensibilidade social, vem levando a cabo.

Não sem que os seus habitantes descessem, hoje, dos seus povoados até à Vila, para manifestarem o seu profundo desagrado e, com a humildade que lhes é peculiar, pedirem que, no mínimo, lhes permitam ter acesso à saúde uma vez por semana.


O Vouguinha2 junta-lhes a voz e fica na expectativa que tão pequena "esmola" lhes não seja recusada.


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Num qualquer lugar....



....onde a Natureza nos lembra que a vida é mais bela quando com ela vivemos em harmonia!

CA GANDA LATA!...

.... como diria uma das minhas netas.

Eu diria "apanha-se mais depressa um mentiroso que um coxo"!



sábado, 16 de outubro de 2010

O País à venda!

Mesmo não navegando nas mesmas águas políticas deste meu amigo e autor do poema, tenho de reconhecer, e sem qualquer esforço, que estamos na presença de boa poesia e de fortes e actuais verdades. É com prazer que o Vouguinha o planta nas suas margens.


Quando te dizem que o País está à venda, mentem!
Ninguém pode vender tudo o que já foi roubado!
Quando te dizem que é amor que por ti sentem,
Esse amor é p’los teus bolsos, desgraçado!

E tu deixas. Tu consentes. Sem um ai, sem um queixume!
Sabes bem que te roubam, que te enganam
Mas tal como a fogueira sem calor e já sem lume,
Deixas os bandidos que te enganam, que te esganam,
Matar-te pouco a pouco e permites a engorda desse estrume!

Onde está o teu orgulho português que soube afrontar os espanhóis?
Onde está a fibra que tiveste, a coragem, o brio e a valentia
Que te fez cruzar mares e encontrar terras de outras gentes, outros sóis?
Onde está o sonho lindo que tiveste, quando um dia
Com flores nas armas e sonhando com o cantar dos rouxinóis
Te libertastes do jugo e serventia?

Onde está que não te vejo, não te conheço!
Que te fizeram para te pôr assim?
Anda daí! Vamos fazer o recomeço
Desta Pátria e, por fim,
Acabar com esta sina má, este tropeço!

Jorge Russell

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Ensino por terras de Lafões



Com a publicação do ranking das escolas, de novo é notório o melhor desempenho dos estabelecimentos de ensino particular. Em toda a linha!






Por terras de Lafões, onde a Escola Secundária de S. Pedro do Sul se vinha, em anos anteriores destacando das demais, foram as escolas de Oliveira de Frades que, na última época escolar , globalmente, mereceram os melhores resultados.






Assim, no universo das 608 escolas do Ensino Secundário avaliadas no Ranking, a Escola Secundária de Oliveira de Frades, com 332 exames, guindou-se ao 73º lugar, com uma média de 116,94. Segue-se, em lugar mais modesto, ainda assim relevante, a Escola Secundária de S. Pedro do Sul que, em 443 exames, e com uma média de 111,85, foi classificada no 128º lugar.

A Escola Secundária de Vouzela, com o mais discreto desempenho do trio lafonense, quedou-se pelo 454º lugar, com uma modesta média de 95,14.

Já nos exames do Ensino Básico (9º ano), e a nível do Distrito de Viseu, em que foram avaliadas 65 escolas, está de parabéns a Escola Básica nº 2 de Oliveira de Frades com o seu 5º lugar distrital. Ainda com desempenho meritório, surge a Escola Secundária de S. Pedro do Sul, 18 lugar. E, a exemplo do modesto desempenho no Secundário, surge a Escola secundária de Vouzela, a 40ª escola das 65 do Distrito.

O Vouguinha, ainda que metendo a charrua em lavra que não é a sua, congratula-se e endereça os parabéns aos estudantes e corpo docente das Escolas de Oliveira de Frades e exortando a de S. Pedro do Sul a manter o seu nível satisfatório, espera por melhores resultados futuros da Escola de Vouzela, passe o empenho que, estou certo, não tem faltado por parte da família escolar daquele concelho.

Estes "rankings" valem o que valem, mas dão-nos sinais.......e não os podemos ignorar!


segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Humor....ou falta dele...


... para uma Segunda-feira com má catadura:




O nosso PR Cavaco Silva viajou esta manhã de TGV para Madrid, onde vai tentar contratar José Mourinho para governar até ao fim da Legislatura....

domingo, 10 de outubro de 2010

Quando nem o Passado é Mestre!


















Soneto quase inédito

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO Soneto escrito em 1969, no dia de uma reunião de antigos alunos.
Tão actual em 1969, como hoje
...

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Já se ouvem os foguetes....

...e os tiros dos caçadores neste dia em que se celebra o Centenário da República.

O Vouguinha2 iniciou os festejos em 31 de Janeiro, assim:

Eu celebro a Pátria...


.. não os regimes servidos na hora.
E, celebrar o quê?
- A República que teve como prelúdio o Regicídio de 1908, pelas mãos da Maçonaria e que sobreviveu, a partir de Lisboa e Porto, à custa do terror que a Carbonária impôs a todo um Povo?
- A Primeira República que, em 15 anos e 8 meses, num ambiente de total desordem, perseguições políticas e religiosas, crimes e radicalismos extremos, teve 8 Presidentes e 45 Governos?!
- A Segunda República, a do Estado Novo, a quem os tresloucados desmandos da primeira deram alforria e força e que, alicerçada no autoritarismo, entorpeceu um Povo durante 48 anos?

- A Terceira República, iniciada com os cravos de 1974 e que deu os primeiros passos de forma grotesca a reeditar todos os vícios e pulverização partidária da Primeira e que só não redundou na bagunça política e social daquela, mercê da mãozinha caridosa duma Europa que a foi suportando com injecção de milhões, reprimendas, avisos e algum paternalismo?

- Esta República em que os Presidentes emanam dos partidos e, por mais probos que sejam, se não libertam das amarras ideológicas e tendenciosas que a eles os prendem, ao invés de se desmarcarem claramente e estarem muito acima, como símbolo e unidade de toda a Nação?
- Esta República actual, em que se fala muito de ética republicana, ao mesmo tempo que temos a percepção de que não há ética alguma, num quadro duma democracia onde se vincam os traços da primeira, como o gamanço, a corrupção, o crime, a ausência de valores, a iniquidade das leis e a debilidade da Justiça e onde se levantam as bandeiras negras do endividamento externo, desemprego galopante, da miséria anunciada e da instabilidade social?

Decididamente, celebrar o quê?

Por mim, da República mais não tenho a celebrar que os símbolos da Pátria, o Hino e a Bandeira, que, de sua autoria, tendo sido apropriados por todo um Povo, estão acima de qualquer regime, e representam uma Pátria que foi forjada nos feitos e sacrifícios nos séculos que antecederam a República.

E essa, sim, será sempre celebrada e me confere o direito de ter orgulho em ser português!

domingo, 3 de outubro de 2010

A CORAGEM DA COBARDIA?


De há muito, e até nestas páginas, venho expressando a opinião, que é minha e vale o que vale, de que o actual primeiro Ministro não é, politicamente,  credível.
Por mais dotes de oratória de que seja dotado, por mais artimanhas estratégicas de que se sirva, nem ele, nem ninguém, me convence da sua incompetência para timoneiro dos rumos deste País. Não é só um problema de carácter, será mais falta de estofo e seriedade política o que lhe limita ou coarcta, em absoluto, o seu eventual e ambicioso sonho de "estadista".
E, desengane-se quem pensar que esta minha perspectiva negativa se funda, em exclusivo, nas dolorosas medidas de austeridade que acaba de anunciar aos portugueses atónitos.
Elas surgiram como inevitáveis, esperadas, por mais criticáveis que sejam - e são -, os instrumentos que o Governo se dispõe a utilizar para evitar o abismo económico-financeiro.
De há muito, os portugueses mais avisados sabiam não passarem de quimeras partidárias, de propaganda e imagem, as manifestações públicas e constantes, por parte do seu Chefe, de que estaríamos a recuperar, a ultrapassar a malvada da Crise, na vereda mais rápida para o País das Maravilhas, o tal da Alice.
O que não se pode perdoar a José Sócrates, para além da falta de verdade, da opacidade das suas promessas e reais desígnios, é não ter, com os pés na terra, com os olhos nas contas públicas, tomado, em tempo oportuno, as medidas que então se impunham para colmatar a situação calamitosa para que, e ele tinha obrigação de o saber, estávamos a ser conduzidos.
Se o houvesse feito, se colocasse acima dos seus interesses pessoais e de poder, estou certo que seriam medidas muito menos gravosas que as que ora integram o pacote anunciado.
Foi, então, que lhe faltou a coragem de que ora, falsamente, se ufana! Distribuir em 2009, no auge da crise que já nos afectava duramente, paletes de benesses, resmas de promessas que sabia não poder cumprir, uma panóplia de subsídios, que sabia não ser possível manter por muito tempo, para além do aumentos de vencimento na ordem dos 3% e dum camuflar do deficit, já então bem real, e de qualquer merceeiro se aperceberia, não é próprio de alguém que se diz corajoso e com capacidade para desempenhar um dos mais altos cargos numa Nação.
Não se compram votos a este preço, tendo por única preocupação de manter o poder, pondo em risco o Presente e o Futuro de um Povo!
Faltou-lhe verdade, sobrou arrogância e irresponsabilidade.
Mas, se inevitáveis as medidas de austeridade já anunciadas, e não hesito em reconhecê-lo, há ainda muito por explicar aos incrédulos cidadãos.
Desde logo, estes não deixarão de se interrogar onde está a coragem de incluir na fivela do cinto apertado, todos os brutais cortes nos proventos de funcionários, pensionistas, reformados - desde sempre, os sacrificados nestas crises cíclicas -, sem que sejam esclarecidos, de forma clara e sem evasivas, se, como e em quais, o Estado se propõe aliviar a Despesa com a extinção de Fundações de objectivos duvidosos, Institutos inócuos, Governos Civis de penacho e outras estruturas e cargos públicos que, ao que parece, para mais não servem que não seja ocupar, e premiar, os boys alinhados ou outras tarefas de propaganda político-partidária.
Não esqueçamos que são 13.740 as entidades que em Portugal recebem dinheiros públicos e urge explicar, com transparência, qual a utilidade e o serviço de cidadania de cada uma delas, à excepção das IPSS, essas, sim, como reconhecemos, credoras de todo o nosso esforço contributivo.
Se tudo isso não for feito, com urgência e de forma convincente, nada me impede de, em consciência, manter a convicção de que estes políticos, a quem, em má hora, os portugueses delegaram poder, não passam de irresponsáveis que se preocupam mais com os seus interesses partidários do que com a vida e o bem estar dos seus concidadãos!
Coragem ou cobardia?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quando o pobre desconfia.... dos "leais conselheiros"...

O que me leva a pensar que este "Relatório" ou "Recomendações" da OCDE, que está a ter tantos aplausos em certas esferas, foi encomendado e cozinhado, nestes últimos dias, nos Estados Unidos da América?

Nem aquele "mister" tão afável e bom conselheiro me convencem, a mim e creio que à maioria dos portugueses, da necessidade de aumentar impostos, sem que o Governo se proponha, desde já, acabar com Institutos inócuos, Fundações de objectivos duvidosos, Governos Civis de penacho, TGV's , desperdícios e mordomias!

As instituições do Estado, em democracia, não existem para se sustentarem com gula à custa dos cidadãos, mas para lhes proporcionarem melhores condições de vida.

domingo, 26 de setembro de 2010

Um simples aperto de mão...

... ou uma "palavra de honra" valiam por um notário e legião de testemunhas.
Era o tempo da honra, da verticalidade, da Gente com vergonha.
Os tempos mudaram, esfumaram-se, na voracidade dos anos, os valores mais sólidos das relações humanas.
Hoje, salvaguardadas as excepções e a teimosia dos que ainda os preservam como seus, a Sociedade está dominada pela vigarice, pelo chico-espertismo, pela desavergonhada mentira.
São os tempos da propaganda, do negócio fútil da imagem, em que os honestos, os amigos da Verdade, acabam sempre perdedores.
Até ao dia em que, em putrefacção, a Sociedade de redima e renasça dos seus próprios e erráticos caminhos!...
Estarei a ser alarmista, exagerado na análise? Provavelmente, não: já por cá
ando o tempo suficiente para saber que, neste contexto de seriedade ou falta dela, vivi em dois mundos...

Enquanto o ouro, a prata e outros "vis" metais se vão valorizando, perdem cotação a Honestidade, a Honra, a Verdade.....e outros valores.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A verdadeira SÚMULA|






Para que não haja problemas informáticos, os advogados não continuem com palhaçadas no circo mediático......e o povão à espera que a máquina da Justiça desempene, esta súmula foi gravada em azulejo!...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os Águias de Alpiarça


Desde os anos cinquenta que ouço referências aos Águias de Alpiarça, como equipa de Ciclismo com pergaminhos nas provas nacionais e internacionais.
Desde os idos tempos de Manuel Simões, aquele que terá sido o seu primeiro ciclista.
Uma foto de 1960, da Família Reis, é bem evocativa dos anos de glória e amor à modalidade daquela antiga instituição desportiva.

domingo, 5 de setembro de 2010

O Hotel das lamentações


Como nota prévia, terei que expressar, de há muito, desde jovem, e por genuína convicção, preferir um culpado em liberdade a um inocente aprisionado.
Ademais, sem que alguma vez, nestas seis décadas de vida, haja sido sujeito a qualquer veredicto judicial, nunca esqueci algumas arbitrariedades, decisões unilaterais, sem que, naqueles anos de juventude e alguma rebeldia, me fosse conferido o direito de defesa. Instituições integradas no espírito do "Quero, Posso e Mando", tão caro ao Estado Novo, não se coibiam de estigmatizar jovens, mesmo por factos que, só por si, entendiam imputar-lhes, sem que lhes conferissem qualquer direito de se defenderem.
É, também, por isso e por experiências de vida longa, que me inibo de carimbar nos condenados pelo veredicto do Tribunal que julgou o Processo da Casa Pia com o rótulo de "CULPADOS".
Por mais forte que seja a minha convicção pessoal de que o Tribunal se terá apoiado em factos provados e que, para além das vítimas, não haverão inocentes neste moroso e escabroso processo.
O que não aceito, enquanto conhecedor dos direitos e deveres de qualquer cidadão, e repudio com veemência, foi a forma raivosa como Carlos Cruz e outros acusados, secundados por alguns dos seus defensores, contestaram a decisão do Tribunal, do Colectivo, que os julgou.
Conferências de Imprensa em Hotel, peregrinações ao minuto pelos mais mediáticos canais televisivos, vertendo insidias contra as instâncias judiciais, invocando o direito à indignação, enquanto as apodavam, insinuavam, ou comparavam com incompetentes, ignomínia, Reino das Trevas, Tribunais Plenários e outros epítetos que, afinal, não provam nada da sua apregoada inocência, mais parece não ter sido do que uma tentativa desesperada de depreciar, ainda mais, a nossa Justiça.
E a sensação com que fiquei foi de que os condenados em Primeira Instância mais não procuraram com estas acções mediáticas pré-programadas - só acessíveis a réus ricos ou poderosos -, do que iludir a opinião pública, entorpecendo-a e preparando terreno fértil para o que se vai seguir, por força dos seus recursos para a Relação.
Tribunal da Relação que, para além das questões de Direito, apreciará as questões de Facto, razão mais do que suficiente para que os ora condenados sintam, ao contrário do que gritaram naquele folclore mediático, conferido o seu direito constitucional, já que do de defesa foi sobejamente auferido durante todos estes longos anos de incidentes de recusa, impedimentos, repetição de exames, requerimentos e recursos de toda a ordem, em quantidade jamais vista no histórico judicial, da lavra dos seus reputados assistentes.
O que me leva a pensar -e não serei só eu -, que tais manobras mediáticas poderão ser encaradas como acções destinadas a pressionar o Tribunal da Relação, o mesmo que, recorde-mo-nos, decidiu, já lá vão alguns anos, e neste mesmo processo de Pedofilia, pela libertação de Paulo Pedroso.
Pressões que, se for o caso, espero não surtam efeito, e que a Justiça seja feita sem amarras ou condicionalismos externos, para sua própria reabilitação aos olhos dos portugueses.
Acabo como comecei: Liberdade para os inocentes, prisão para os culpados!
E que, sobretudo, se respeitem os Tribunais e que ninguém esteja acima da Lei!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Morreu a fazer o que mais gostava....




..... foram as palavras de José António Rocha, responsável pela Banda de Paços de Vilharigues, após um dos seus executantes, contrabaixo há mais de 25 anos naquela Filarmónica do concelho de Vouzela, ter falecido em plena arruada nas festas de Canelas, Gaia.


José Augusto Negrão Carvalho, de 73 anos, apesar da idade e das doenças que o apoquentavam, insistia em "fazer o que mais gostava".

O Vouguinha2 deixa por aqui nota do pesar, apresentando a toda a Família e a todos os elementos daquela tradicional Banda da Região de Lafões, sentidas condolências.


domingo, 22 de agosto de 2010

O Glutão Insaciável


Enquanto o Governo, travestido de PS, em Mangualde, perante um magote de apoiantes, na sua maioria transportados em autocarros desde terras distantes, bem à maneira do espectro partidário nacional, desancava na Oposição, com a mestria retórica e linguagem florida do seu grande líder, os portugueses iam sabendo pela Comunicação Social que, apesar do aumento da carga fiscal a que o Povo vem sendo sujeito, num sacrifício que lhes foi imposto para aliviar o deficit, que as Receitas, por via dos impostos, aumentaram, enquanto a Despesa do Estado não abrandou.
Comporta-se como um glutão insaciável, sem emenda, que devora tudo o que o Povo lhe armazena na despensa...
Não serão, de todo, necessários conhecimentos adquiridos numa qualquer universidade de fim de semana, nem canudo de Economia nas novas oportunidades, para que possamos constatar que este Governo continua a não cumprir as metas a que se propôs, continuando a esbanjar o que tem e o que não tem.
E que é no esforço, no sangue e suor, do Povo que este glutão optimista vai alimentando a locomotiva devoradora que nos continua a conduzir até um abismo de que não haverá retorno.
Digo eu, que sou um leigo na matéria económica.......e um potencial "pessimista".....


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Definham os campos, engordam as madrassas....e os madraços.

A espada já subiu, para decepar, no primeiro golpe, 701 escolas, na sua maioria, do Norte do País.

Viseu será o distrito mais atingido pelos encerramentos.

A Região de Lafões não passou incólume a este "tufão" destruidor....

.... depois dos centros de saúde, encerram-se as escolas. Desertificam-se os campos, condena-se a já reduzida agricultura, abandonam-se as serras, que o fogo, colaborante, se vai encarregando de reduzir a cinzas.

É a hora do abandono, da concentração em meia dúzia de grandes centros e o virar de costas à terra com que partilhavam a vida.

Despejam-se as crianças em armazéns, tipo madrassas, que sai caro enraizá-las no chão dos seus avós.

É o custo duma modernidade balofa, planeada a régua e esquadro, em gabinetes de utopias, centrados nos ditames das calculadoras. Onde só há números e falta alma.

São só dez, doze, quinze ou dezanove...........cifra pouca para quem gente é nenhuma... e não dá votos!

Decrete-se a falência do Interior, que os homens do fraque ainda lutam por salvar o Litoral da bancarrota...

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Optimistas, enganem-me que eu gosto!


Já havia decidido ( e vou manter, no essencial) não abordar a temática dos incêndios, sem que esteja ultrapassado o período negro que nos tem consumido as florestas. Essa intenção prende-se com o facto de entender que não é a quente, em plena luta , o momento adequado para se debaterem questões desta natureza.

O mesmo entendimento não teve o Senhor Ministro da tutela. Rui Pereira que, mal-grado a calamidade que ia galopando em ritmo atrozmente acelerado, sobretudo no Norte e Centro do País, foi sendo credor de compreensão pela forma decidida e presencial como ia acompanhando os casos mais difíceis, quebrando o relativo estado de graça quando decidiu tocar a vuvuzela do optimismo e do positivismo, tão caros ao partido que o sustenta no Governo!

Proclamar “positiva” a forma como se processou o combate aos incêndios, ainda que reconheçamos o esforço, o denodo, dos soldados da Paz, não tanto pelos meios postos à sua disposição, proclamar, quase em tom de vitória, que a área ardida é inferior à que foi pasto das chamas em 2003 e 2005, quando ainda ardem vastas áreas de floresta, quando os populares lutam, sem descanso, na defesa de suas casas, é uma proclamação pouco séria, com fins politiqueiros, um insulto para todos aqueles que ainda pelejam na refrega dos fogos, para todos os que viram os seus haveres reduzidos a cinzas e para os cidadãos que ainda se se vão condoendo e preocupando com a destruição do seu País.

Não andou bem o Senhor Ministro. Não se levantam troféus de optimismo nestas situações. Não há desgraças positivas!

Como não andou bem o Senhor Primeiro, e as suas habituais câmaras de ressonância, quando nos aparece sorridente e de ar feliz, anunciando ter sido positivo o facto do número de desempregados não ter aumentado no segundo trimestre deste ano. Por continuar em carteira com 589.800 desempregados (segundo os dados do INE), desprezando, como politicamente convinha, o facto de, relativamente a igual período do ano transacto, serem mais 80.000 sem emprego! Considerar estes números uma “boa notícia” só pode ser mais um miserável golpe de propaganda. À custa dos que vão assistindo ao resvalar para o abismo dum Povo que teve a desdita de lhe dar caução.

É mais um optimista. Mais um dotado, que, por artes mágicas, não faz vinho da água, mas transforma as derrotas trágicas em vitórias retumbantes.

Afinal, bem à imagem do treinador do clube da minha simpatia que, tendo nome de salvador, após a real derrota com a Briosa, foi lesto em falar de ter dominado e massacrado a equipa adversária.

Estes homens, malabaristas da palavra, são uns optimistas, uns positivistas. Que todos os outros, os que nos falam verdade, com os pés na terra e sem asas de anjos mentirosos, são uns negativistas!

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Papagaio louro, de bico.....


Um pintura digital do Jaime Alves, trabalhada a partir de foto de sua autoria, no Paraguay. Na sua nota, esclarece-nos que se trata duma "Amazona aestiva" ou "loro ablador". Na familia destas aves (Psittacidae), a espécie retratada é a que tem mais capacidade/virtuosismo vocal para imitar vozes humanas, cantos de outras aves ou mesmo o ladrar dum cão.

Sem desvirtuar o belo trabalho daquele meu amigo, muito menos dos seus profundos conhecimentos desta temática, a crer nas capacidades desta ave, fico, para além de grato ao Jaime Alves, a interrogar-me se a espécie nâo estará a ser objecto de reprodução intensiva no nosso País, tantos são os papagaios no poleiro que nos vão iludindo com o seu canoro canto!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Estado é quem manda em nós...

... não somos nós que mandamos no estado!"

Quando da calamidade que atingiu a Madeira, rotulei de miseráveis as acusações que algumas figuras da Ilha e do Continente, se apressaram a tecer às autoridades daquela Região Autónoma. Por precipitadas, produzidas quando as cheias ainda destruíam bens e pessoas, considerei-as de aproveitamento político, oportunismo populista.
Pelos mesmos princípios, não vou, por agora, brandir a espada contra bodes expiatórios, nem tecer considerações a propósito do fogo que, desde há quatro dias, vem destruindo um dos maiores pulmões das terras lafonenses.
Será a frio, no rescaldo do pesadelo que terão de ser discutidas as causas, os meios empenhados e os efeitos daquela catástrofe que cobriu de fumo e pesar o Concelho de São Pedro do Sul, aquela cidade que muitos consideram ser a Sintra da Beira.
Mas não posso deixar de registar o genuíno desabafo de um popular, residente numa das aldeias em perigo, que defendeu das chamas a sua habitação e se lamentou para um canal televisivo:
- Eu limpei, como limpo todos os anos, o meu terreno à volta da casa. Mas o Estado não limpou a floresta que é sua propriedade, aqui em volta. O Estado é que manda em nós, não somos nós que mandamos no Estado!...

Apenas um pequeno comentário: O mal passa por aí: nós, o povo, não mandamos no Estado!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A cidade da Beira, Moçambique

Imagens de Julho de 2010
A exemplo do Grande Hotel, que já foi a Jóia da Coroa do turismo beirense, a segunda cidade de Moçambique apresenta as suas estruturas algo degradadas. Fruto amargo duma guerra civil que se prolongou para lá do concebível. Mas a recuperação e o progresso são possíveis, ora que se vive em Paz e se procuram os caminhos para o desenvolvimento.
Ademais, o encanto continua lá...


sexta-feira, 30 de julho de 2010

COMUNICAÇÃO AO PAÍS






Eu, abaixo assinado, declaro, e comunico à Nação, sob compromisso de honra, que não tenho nos meus bolsos, nos meus Bancos, em prédios, ou em offshore, os milhões de que os investigadores do Caso Freeport se diz terem perdido o rasto.





Zé Povinho

APROVEITEM A VIDA...



… e ajudem-se uns aos outros!

Foi uma das últimas frases de António Feio, quando já se desligavam no corpo os últimos fios de vida.

António Feio nasceu em Lourenço Marques, actual Maputo, Moçambique, em 6 de Dezembro de 1954. Popular actor de Teatro, onde se destacou pelo seu humor e profissionalismo, viria a ser, já no período em que lutava contra a implacável doença , condecorado com a Ordem do Infante D. Henrique.

Para além da sua coragem e força admiráveis, de que nos deu exemplo no último ano e meio, apagaram-se para este grande homem e artista, que nos dizia que o Teatro era uma festa, as últimas luzes da ribalta, nos seus 55 anos de vida.

Deixa-nos, para além da admiração que soube conquistar no seu vasto público, frases que bem merecem ficarem vivas e reflectidas por quantos o admiravam:

“A vida é uma passagem muito rápida. Há que aproveitar bem o tempo”

“Aproveitem a vida e ajudem-se uns aos outros”

“Não deixem nada por dizer nem nada por fazer”

Deixou um desejo por cumprir, levar os seus filhos a Moçambique, a terra em que nasceu .


Que repouse em Paz!


quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Geração esquecida!


O mato é verde como a esperança,
denso e forte como a paixão,
cheira a catinga e a feitiçaria,
a queimadas vermelhas na escuridão.
O mato é um céu aberto,
uma prisão com canos escondidos,
o limite de quem não se sente liberto,
um poema de gritos e gemidos.
O mato é música e sensualidade,
negra desnudada num banho de sol,
cabelo enrolado como um caracol,
a gritar e a correr em liberdade.
O mato é o medo que se escapa pelos trilhos,
a desconfiança aos camuflados que chegam,
a fera com cio vagueando desvairada,
suor da arte maconde ainda não prostituída,
O mato é o silêncio duma espera
a angústia sofredora de quem desespera,
tiroteio rasgando em carne viva.
O mato é a castanha de cajú,
água do coco e papaias do desejo,
caçadas de reis sem roque e sem reino,
armas em brasa na guerra sem leis.

E em África jovens se gastaram,
em tempo dobrado esperaram,
que não fosse preciso matar e morrer
para que os homens se entendessem.
Choravam pelos filhos que nasciam
pelos amigos que morriam,
e eles matando e sobrevivendo
e eles ferindo-se e morrendo.
Tinham na Alemanha próteses à espera,
na pele o sol e a chuva,
na alma uma fartura de mato,
nas mãos o cheiro do capim,
nos dedos os calos do gatilho,
nos olhos a lonjura da savana,
na saudade a viagem do regresso,
no coração a surpresa da cilada,
nos ouvidos os assobios das balas,
em Alcoitão cadeiras de rodas,
em Artilharia Um o desalento triste,
nos cemitérios valas já prontas,
nos pés arrastavam o cansaço,
no pensamento silenciavam PORQUÊ?
no corpo o desejo de amar da idade,
conforme o sorriso dos lábios e a vontade
de abraçar a mulher tão longe, tão distante.

Geração esquecida pelo antigo mando,
silenciada pelo novo mando,
por todos os mandos imprestáveis,
por todos os mandos sem orgulho,
sem raiva e sem mãos limpas.

Continuaremos a ser a geração
Sem diamantes nos dedos
e sem presas na arrecadação.

- M. Nogueira Borges*, Porto. Escrito em junho de 1978.

*Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. Pode ler também os textos deste autor nos blogues ForEver PEMBA (http://foreverpemba.blogspot.com/) e Escritos do Douro (http://escritosdodouro.blogspot.com/).
Gostei, revi-me neste poema e trouxe-o para enriquecer as margens do Vouguinha.
Um abraço ao autor!

terça-feira, 27 de julho de 2010

Um conto antigo - FLORESTA DE SANGUE


NOTA PRÉVIA







Escrevi este “conto” em Setembro de 1975.

O reduzido afastamento temporal dos factos narrados implicou um reviver de situações que passaram ao papel como quadro fresco, com as pinceladas de ficção mínimas. Admito mesmo que Hoje, este conto teria outros cambiantes, ou não passaria mesmo da memória do autor.

Sem qualquer pretensão literária, reproduzo-o agora, em humilde dedicatória e com o pensamento nos que, de alguma forma, viveram ou se revêem nas situações narradas, em especial naqueles a quem a má fortuna não permitiu lerem estas linhas.... (Falta, apenas,pedir desculpa por algumas gralhas e pela pouco cuidada configuração do texto)


FLORESTA DE SANGUE

1971. Moçambique/Norte. Manhã de cacimbo fresco. Folhas de cajueiro velho, perdido na mata, choram gotas de orvalho na picada estreita de matope enrijecido pelas tardes quentes. Perto, aves sinistras lançam, a espaços, silvos irritantes por entre centenários embondeiros.

Nada mais se ouvia ao redor. A noite acabava fria, silenciosa e calma, não fora uma gazela atrevida infiltrar-se, em desenfreada correria, cortando o círculo, por entre as três dezenas de fardas negras que, em alvoroço, viram o seu fraco repouso interrompido, num bater de coração mais forte, num aperrar de armas tão nervoso quanto inesperado.

Era um novo dia que rompia, um novo dia que até nem contava. Era só mais uma data, apenas, para rapazes já homens, a quem o dever não permitia calendário de vida. O de morte também podia servir para a contagem indiferente de uma manhã que surge numa floresta sem horizonte.

O Comando havia sido claro na ordem que transmitira. Aquele grupo de homens, fracção duma força de combate estacionada algures no Norte de Moçambique, teria por missão interceptar um grupo inimigo, fortemente armado, que dias antes atacara e saqueara um aldeamento de nativos. O resto era com eles. A zona conheciam-na bem, os perigos não contavam e o medo não era o melhor conselheiro para quem queria conservar a “pele” naquela guerra traiçoeira onde, por vezes, era imperioso “dar” primeiro.

O alferes Carrilho que, com dois furriéis e enfermeiro eram os únicos europeus entre homens de rostos bronzeados, nados junto ao Índico, dava as últimas instruções ao grupo, antes da partida para o terceiro dia de marcha. Os sacos de campanha, acomodados sobre as fardas húmidas e sujas, haviam já sido aliviados de algumas latas de conserva de porco, gordurosas, que só o negro Manjate, fruto recente das Missões cristãs, comia. Os outros, por Alá, nem cheirá-las...

Mais leves, olhos já lavados no orvalho do capim alto, em fila espaçada, aproximavam-se já dum trilho batido, detectado na véspera pelo pisteiro Capoca, um recuperado à Frelimo, a que nada escapava. Por isso, lhe chamavam “o Perdigueiro”.

Ali mesmo fora decidido montar a emboscada. O inimigo, com o saque e elementos da população raptados, poderia escolher aquele itinerário para a retirada mais para norte, para recônditos e mais seguros refúgios, em região onde se pensava estar implantada a Base Manica.

E, quando os cortantes raios de sol tropical já rasgavam as copas frondosas do arvoredo, os homens de negro, espalhados por entre os arbustos, aguardavam silenciosos. Esperavam na incerteza....mas esperavam. Afinal, aquela até era uma guerra de espera.....espera de um final que tardava em acontecer e o último capítulo daquela rude aventura de anos era uma assustadora incógnita....

O silêncio doía muito! Aquele “silêncio” era duro! Via-se no rosto do comandante. Ele próprio preferia gritar bem alto. Ouvir o eco da sua voz lançado pelos rochedos soltos.

Queria gritar que não queria a guerra, mas que não tinha medo. Talvez para assustar esse mesmo medo. Queria não pensar em nada, automatizar-se, mas aquele marasmo de silêncio, que já durava horas, punha-lhe o cérebro mais desafinado que a barulhenta fanfarra do Batalhão.

Nada mais aconteceu naquele dia que desse outra cor àquele quadro vivo de corações enervados.

Com o cair da tarde, o alferes incumbe o Ferreirinha, um baixinho furriel europeu, quase no fim da comissão, da retirada para pernoita. Impunham-se cuidados especiais neste “mudar de sítio”: o local onde haviam pernoitado na véspora não servia. Nem em tal pensar! “Por o periquito nunca mudar de ninho é que lhe roubam os filhos”, dizia o Ubisse, um homenzarrão negro que não largava a metralhadora mais pesada do quartel.

E foi afastado da zona, o novo local de pernoita que, afinal, não era diferente: as mesmas árvores, o mesmo pouco céu, a mesma terra seca, os mesmos pássaros e, até, os mesmos semblantes sofridos do pessoal.

- Meu alferes, isto já não dá nada! Quase não há ração, a água é pouca e os “turras” já passaram por outro lado!

Este era o estribilho do enfermeiro Correia, um dos poucos europeus do grupo. Estribilho que, mais uma vez, ensaiou aos ouvidos do Carrilho, já habituados aos alvitres conselheiros do cola-adesivos lá da malta.

E, quando o alferes lhe retorquiu não se poder retirar sem a certeza de que o inimigo havia passado para norte, lá foi o Correia, coçando o barrete salpicado de mercúrio, embrulhar-se por entre as ligaduras e bebericar a água a que ele, para desinfectar, dizia, juntava álcool. Só que o mordaz Sacura afiançava que o Posto de Socorros estava quase todo na barriga do Correia!....

Eram já 10 da manhã do outro dia. Mais cinco horas eram já passadas daquele dia em

nova espera. De novo o silêncio, de novo a quietude ansiosa de outra emboscada junto

ao trilho adversário.

- - Isto é demais, meu alferes! Que se lixem os turras! Já nem água tenho,- quando é que

is isto acaba? –sussurrava interrogativo o furriel Bazuca, um - minhoto novato, dois meses

a antes largado pelo Niassa naquelas longínquas paragens.

- - Estabelece ligação rádio com o Comando, que eu quero falar com os gajos! – balbuciou o Carrilho, também já preocupado com aquela situação nada agradável.

E foi de abatimento o encolher de ombros agitado e discordante do grupo, quando se

espalhou a resposta do oficial de operações.

- Porra, mas quando é que a malta atinge o Rio Montepuez? Em vez de irmos para o Messalo onde eles se acoitam, vamos para sul? E se

não encontrarmos água até lá? E o que vamos comer amanhã se a ração está a acabar?

Ninguém respondeu ao Correia, de novo a espalhar pessimismo, qual Velho do Restelo

das selvas africanas.

Mas a ordem era para cumprir, estava acima de qualquer desabafo, era superior

a qualquer dúvida ou rezinguice do pessoal. E, bem no íntimo, eles tinham a noção disso, mas aquelas “bocas” descontraíam e davam as energias que iam faltando.

Estava prometido o abastecimento hélio para a tarde do outro dia. Viriam mais umas

caixas de alimentação pré fabricada.... A água, só por sorte se encontraria, a não ser

quando atingissem o rio, para sul, razoavelmente caudaloso e onde, na anterior operação, o

Capoca havia colhido um bom Kg de camarão. Ricos rios que até camarão davam!

A malta até se imaginava os balcões da Portugália.....

A progressão era lenta, por perigosa.

Por vezes, a indicação do “cinco” da frente,

periodicamente rendido, o grupo abria em linha,

metade para cada lado do trilho

inimigo que seguiam, não fosse uma rajadas

traiçoeiras, por detrás de um tufo de

vegetação mais denso ou de uns rochedos

soltos, surpreendê-los. Para triste e doloroso exemplo

chegara o que, dias antes,

acontecera ao alferes Marques, um jovem quase formado em Medicina,

que se vira privado da perna direita, quase esfacelada.

Este tipo de avanço era difícil, mas necessário, e retardava um pouco o andamento que,

em tais circunstâncias, não chegava aos dois Km por hora.

Eram já duas da tarde. O sol, na vertical, jorrava vagas de calor inclemente sobre os corpos

suados. O Ferreirinha largava imprecações minuto a minuto, quando uma aborrecida

micose lhe ardia ao roçar as calças de caqui.....e o sacana do Correia só levava mixórdias...

.acusava o furriel.

De repente, tudo pára. Num movimento sincronizado, qual grupo de bailado rítmico em

estreia no Olímpia, todos se deitam, sem ruído, indicador a tremelicar, hesitante, junto ao

gatilho. Mas não soaram tiros. O passa-palavra chegou depressa aos últimos homens que, já levantados, sorriam: uma jibóia, que mais parecia o tronco de uma umbila, atravessara-se

no trilho, pachorrenta e indiferente a tantas espingardas.

- Mata-se, meu alferes? – perguntou o Ambasse, um maconde esguio, especialista
em liquidar cobras daquela envergadura, arrastando-as vários metros pela cauda,
com o auxílio de um pau-forquilha.
Não satisfeito nas suas pretensões, ensaiou um esgar de desolação por entre as secas
faces tatuadas e juntou-se ao grupo, que já recomeçara a progressão. A jibóia lá ficara, imperturbável,a digerir os restos de qualquer gazela azarenta.
O sol já declinava. Não sendo viável atingir, ainda de dia, o Rio Montepuez, objectivo que,
no momento, os movia, com as calças a balançarem largas e soltas debaixo das
cartucheiras pesadas, pensou-se em calar o estômago contraído.
Não tinham aqueles homens, já bastante identificados com a vida no mato e com os perigos que lhe eram inerentes, por hábito tomar a última refeição, ligeira, no local da pernoita. O Carrilho sabia bem quanto lhe tinha custado, um ano antes, livrar-se das carnívoras formigas a que, muito a propósito, apelidavam de “cadáver”. Fora uma noite de sofrimento: os detritos, o cheiro das latas engorduradas, eram um tentador convite para aqueles bichinhos gulosos. E apareciam de todo o lado, como que chamados por batuque festivo ao banquete real que a carne odorosa da malta lhes oferecia. Assim, havia que comer qualquer coisa antes de anoitecer e do descanso, pois impossível seria romper às escura por uma selva tão fechada.
E foi nessa paragem que o alferes caiu num daqueles erros negligente, ele que não costumava facilitar em questões de segurança. Quando num trabalho de nomadização, em que se andava pelo mato em busca de indícios que levassem ao encontro do inimigo, mas ainda se não seguia qualquer pista, era natural que em qualquer lado se fechasse o circulo para a refeição. Não era este o caso, pois seguia-se um trilho que os guerrilheiros utilizavam. E a norma seria deixar metade da força emboscada junto àquele, enquanto o resto se afastava uma meia centena de metros. Passados uns dez ou quinze minutos, tempo suficiente para tragar umas sardinhas em azeite e umas quantas duras bolachas, haveria a troca do pessoal.
- Como a refeição tem de ser breve, comemos mesmo aqui. Manda abrir o circulo e avisa o pessoal para que se não demore. - e lá foi o apressado furriel Bazuca dispor os homens naquela roda rotineira que fazia lembrar o circulo das caravanas de caras-pálidas perante a iminência de um ataque de Apaches, que o faziam vibrar junto à caixa televisiva, na sua meninice não muito remota.
Foi, então, que um tiro seco soou. Seguiu-se um desordenado e barulhento pegar nas armas em repouso junto aos joelhos dos fardas-pretas, ocupados a esburacarem as latas da ração. Ouvidos atentos, olhos a girarem em todas as direcções, interrogativos, numa fracção de segundos.
De repente, o ar em volta é cortado por uma sinfonia macabra de tiros, rebentamentos e gritos de ordem que não se ouviam.
-UIO-MAMA! - E os homens levantam-se, de armas apontadas. O grito era o sinal já
antigo que os elementos em confronto lançavam para avisarem os mais recuados que o inimigo debandava e era o momento de os perseguir. O pessoal da retaguarda cala as
armas, enquanto a secção avançada continua a disparar sobre o adversário em fuga.
Foi breve a perseguição. Tinha que o ser quase sempre, quando os poucos guerrilheiros
se dispersavam por entre a mata densa. Seguiu-se a batida em linha, para detectar
armamento abandonado no confronto.

- Eu sabia que ela estava aqui, meu alferes! O gajo deve ir ferido, porque eu atirei-lhe

num braço!.... - e o Jonange, com os dentes afiados por debaixo dos seus lábios
espessos, sorria, exibindo uma “Simonov” ainda nova, oriunda do bloco soviético,
o maior arsenal da Frelimo. Outros haviam, também se encontravam armas de origem americana e de potências ocidentais.

- O artista vai mesmo ferido, - dizia o ferreirinha, ao inspeccionar a semi-automática com umas gotas de sangue ainda fresco, ao longo da bandoleira de caqui.

Não eram mais do que cinco os inoportunos estraga-jantares, mas foram mais do que suficientes para agitar e desgastar, ainda mais, aquela trintena de homens já cansados.
Seguiu-se o afastar do local para o “estudo da situação” que o Carrilho costumava fazer nestas situações, não só para se inteirar dos pormenores do confronto, mas também para acalmar os homens ainda agitados, com o coração a bater forte e os ouvidos a repetirem, teimosamente, o eco da metralha.
- Foram eles que deram o primeiro tiro, meu alferes. O Amisse estava levantado a afiar um pau para tirar o ananás da lata. Foi para ele que os turras dispararam.

- E porquê tanta demora a responderem? - interrogou o Carrilho, fitando o velho cabo negro, que fora caçador de elefantes lá para as serras do Niassa.

- Nós só os vimos quando voltaram a fazer fogo. Foi então que o Jonange começou a disparar sobre os gajos....
Já escurecia. O alferes estava desolado. Irritado mais consigo próprio por ter falhado daquela maneira de checa principiante, que já não era. Mas que raio de azar aparecerem logo naquela altura! E, pior ainda, não era o grosso da coluna inimiga que tinha por missão deter. Cinco homens seriam, ou uma guarda avançada ou, o mais provável, emissários enviados ao “quartel-general” da área, algures mais a norte, dando conta dos resultados do ataque ao aldeamento, ou na procura de remuniciamento, pois os guerrilheiros quando perpetravam qualquer ataque eram “generosos” no gastar de munições, que não podiam armazenar em grandes quantidades.
Mas tudo isto eram conjunturas falíveis.
- E se os tipos recuam e vão avisar os outros que estamos a tentar apanhá-los? Já não dou nada por isto! - desabafava o Ferreirinha, sem deixar de coçar a micose que naqueles momentos de tensão ainda mais o importunava.
- Não devem ir, meu furriel, - interrompeu o Capoca, com o seu ar de sabe tudo -, eles quando vão para qualquer sítio já têm combinado o local de encontro no caso de serem atacados. Separam-se agora na fuga, mas vão juntar-se lá mais à frente, para continuarem a marcha rumo ao seu inicial destino.O Carrilho apostou nesta versão. Não só pelas provas de intuição guerrilheira que o “Perdigueiro” já havia dado, mas pelo facto de ter sido já combatente activo da Frelimo. E, vá-se lá saber porquê, era considerado “acima de qualquer suspeita.

Não houveram baixas nos fardas pretas. Apenas uma camisa furada e um ligeiro arranhão nas costas do Amisse, onde o Correia já colocara mais um adesivo.

A noite marcou-lhes encontro quando já procuravam local próprio para mais um descanso. Não o foi muito, porque os nervos excitados ainda não haviam atingido o “rilex”; tão difícil de conseguir naquela guerra desgastante, nada convencional.
O outro dia seria mais complicado. A ração, em termos logísticos, já havia acabado, não obstante o pouco apetite do dia anterior e o “calo” de poupança do pessoal guardassem umas latas providenciais. A água é que molhava poucos cantis. Ma o rio seria atingido pela manhã e o reabastecimento “hélio”, já prometido, era esperado à tarde.
- Falta muito para chegarmos ao Rio Montepuez? - pergunta o Ferreirinha, quando já tinham duas horas de marcha do novo dia, eram, então, seis e meia da manhã e o sol já raiava há muito por entre o arvoredo, agora mais verdejante e espesso, com o aproximar do rio tão desejado. E o Alberto, uma macua que vivera naquela zona, agora deserta, muitos anos, até que a guerra chegou, e onde tinha a sua palhota e uma grande machamba de mandioca, aponta para o céu sem nuvens e, indicando um ponto imaginário, respondeu ao ansioso furriel:
- Se não pararmos, quando o sol estiver ali, já estamos no rio.
Não foram muito enganadores os dados do velho cabo Alberto. Pouco passava das onze, quando o grupo atingiu a margem de vegetação densa e viçosa do tão familiar Montepuez. O trilho, que nunca haviam deixado de seguir, bifurcava-se ali e perdia corpo, para se transformar numa manta de abundantes pegadas, por entre o tufo de lianas entrelaçadas em árvores de copa larga.
Era aquele o local pretendido para a última tentativa de interceptar o inimigo no seu regresso de ataque ao aldeamento.

Para o Carrilho, que não deixando de respeitar, no essencial, as ordens que recebia, valia bem mais o seu objectivo pessoal e o melhor que se podia conseguir daquela missão era subtrair do controlo do inimigo os elementos da população por ele raptados no aldeamento e que, segundo indicação rádio, rondavam as 20 pessoas. Ele sabia que aquela gente não ia de vontade. Conhecia bem a realidade macua. Se fosse da sua vontade, oportunidades para se juntarem aos guerrilheiros da Frelimo não lhes faltavam, atendendo ao isolamento da aldeia, onde se dedicavam ao cultivo de produtos para sua subsistência e de rendimento, como o algodão e o caju. Os macuas eram pacíficos, queriam paz e não se deixavam aliciar pelos insistentes convites dos “mabandidos”, como então chamavam aos guerrilheiros.

Daí as retaliações frequentes, caracterizadas por um vandalismo primário, pouco compatível com o alardear de intenções libertadoras que apregoavam. Daí, também, o desprezo, a raiva incontida que alimentava uma fogueira de vingança no peito daqueles negros fardados, que deram a algumas forças expedicionárias, exemplos de coragem e de luta interessada, passe a categoria de algumas tropas europeias de elite que se souberam bater com honra.
Por tudo isso, o esforço, o espírito de sacrifício, indiferente à sede e à fome, daquele grupo de fardas negras, preocupado, agora, no encher dos cantis, no refrescar dos corpos sujos naquelas águas transparentes dum rio que desliza em suave paz, alheio aos sentimentos de dor, de medo, de horror àquela guerra e seus terríveis efeitos, de homens que procuravam dentro de si mesmos justificação para uma guerra de irmãos que nunca haviam experimentado. Como acabá-la, como extirpar o ódio, como dizer basta?! Perguntas sem resposta.......
Mas, enquanto estas meditações ocorriam, tratava-se era de cumprir mais uma missão, mais uma peça duma engrenagem bem complicada e havia tão só que a desempenhar o melhor possível, com o profissionalismo a que o dever obrigava.
- A secção do Bazuca já está abastecida de água. Vou agora com o meu pessoal. - informava o Ferreirinha, enquanto o alferes, esticando a antena do Racal, tentava comunicar ao Comando a sua nova localização, atingido que fora o objectivo imediato. O restante pessoal, disposto em linha paralela ao leito do rio, tomava posições, não fosse surgir nova surpresa, enquanto uns vinte metros mais abaixo os outros se dessedentavam.
As três da tarde surpreenderam o Carrilho com o Bazuca e um grupo de cinco elementos a reconhecerem o local da emboscada, que até nem era muito apropriado: a vegetação cerrada, com ramos entrelaçados por sobre a margem do rio, apesar de abrigada e bem camuflada, tinha o inconveniente de não permitir ligação á vista entre o pessoal, mas tinha a vantagem de colher o inimigo na travessia do rio, com pé naquela estação, passe o razoável caudal de água corrente. Outras alternativas não eram mais viáveis.
- Apre, mas aqueles gajos passam por aqui? Esta porcaria está cheia de feijão macaco! - vociferava o Bazuca, enquanto se coçava aflitivamente. Aquele pó que as malvadas feijocas libertavam ao serem tocadas era mesmo demoníaco! Irritava bem mais que um bravo urtigal das Beiras. E o comichão não passava, sem que a pele ferida de arranhões fosse esfregada por providencial cinza de queimada recente. Era, naquela região, um dos maiores inimigos que a vegetação tropical lançava contra o homem.
- Os tipos têm a pele dura, não barram as orelhas com creme Nívea, como o meu furriel....-zombou o Correia, que não deixou de ir meter o espevitado nariz no breve trabalho de reconhecimento.
Vinte minutos depois já quinze homens estavam dispostos ao longo da margem, com o rio e o lado oposto à vista, numa linha que, por força da natureza do terreno, não teria mais que quarenta metros de extensão. Os restantes quinze ficaram recuados a uns trinta metros dos emboscados e tinham por missão fazer face a qualquer, pouco provável mas não impossível, aproximação do inimigo pela retaguarda.
Renderiam os outros duas horas depois e, no caso de surgir o grupo inimigo, ocorreriam para os flancos, em reforço do pessoal da frente.
Mas tudo começou pouco depois. O Inferno, numa aparição contraditória, abriu-se, abrasador, por entre as águas frescas do rio e passou-se a meia hora mais longa na vida destes combatentes, passe o facto de já estarem habituados a situações de confronto.
Aquela foi diferente, foi desumana, terrível!....
Haviam sido dadas instruções para que só se disparasse quando o inimigo surgisse em grande número, já dentro de água. Mas ele usava das suas cautelas. De início, só dois guerrilheiros entraram na água. O grosso da coluna aguardava em fila, do outro lado.
Não arriscavam de qualquer maneira. Os ensinamentos colhidos pelos chefes na China e URSS haviam sido bem assimilados. Viam-se os primeiros três estáticos, aguardando que os dois primeiros fizessem a travessia....
E não se sabe quem abriu as portas daquele inferno trovejante, quando aqueles divisaram o cano brilhante de uma G3 menos escondida. Quais molas de aço, atiraram-se em cambalhotas aquáticas, disparando sempre, até caírem atingidos dentro de água.
Foram as primeiras vítimas. Os outros recuaram, retomaram posições e despejaram sobre os quinze emboscados quantas armas traziam.
Seguiu-se um tiroteio intenso, medonho. Três bazucadas inimigas fizeram lume por cima das lianas esfaceladas, por sobre a cabeça do Ferreirinha. Os gritos confundiam-se com o rebentar constante das granadas que levantavam água fervilhante. Gritos de dor, à mistura com outros de incitação, davam àquele quadro incandescente um reflexo de luta e morte.
Os abutres não tardariam a esvoaçar sobre ele!...
O grupo inimigo era numeroso e aguerrido. Notara-se logo, aos primeiros disparos. Mas, se alguém tinha que abandonar o terreno, seriam os guerrilheiros. Eles sabiam-no e convinha-lhes por estratégia, mas a força do seu número e armamento davam-lhe inusitado ânimo de experimentarem o pulso dos fardas negras, talvez, também, para darem cobertura e tempo à retirada da escolta com a população raptada. Só eles sabiam......
- O morteiro, depressa! - grita o alferes, correndo por entre o capim ao encontro do apontador Zé João, um misto landim muito dedicado.
Era o último recurso. Quando a força inimiga era forte, insistente e bem armada, só o rebentar das granadas de morteiro 60 a podia desmoralizar. E, em catadupa, foram caindo na outra margem, com uma impressionante regularidade, dez granadas que elevavam por cima das copas, uma nuvem de folhem seca.
As armas ligeiras foram-se calando, pouco a pouco.
- Meu alferes, temos um morto. O Manjate já não tem vida.. - gaguejava o Correia, com o rosto lívido e os olhos desorbitados a jorrarem lágrimas envergonhadas, - também há feridos, mas ainda os não alcancei. Estão entre as lianas. Eu oiço-os...-e já corria com a caixa de medicamentos por entre o arvoredo.
O eco da metralha calara-se de vez. Só a vozearia excitada e os chamamentos aflitos, entrecortados por gemidos de dor, se ouviam.
Além da baixa do Manjate, atingido em cheio no peito por estilhaços de granada de bazuca, haviam mais três feridos, com alguma gravidade.
Já o furriel Bazuca, com o pessoal que acorrera aos flancos, atravessava o rio em corrida. Era a perseguição ao inimigo que se sabia levar feridos. Os dois mortos, tombados na água, lá contiuavam...
Os homens que sofreram o impacto directo do combate, reagrupavam-se sob a orientação do Correia; transportavam os feridos para local mais aberto e recuado. Um deles era o Ferreirinha, o veterano que, a dois meses do fim da sua comissão, gemia e jorrava sangue. A bala ficara-lhe alojada no antebraço. Talvez no osso.
- Já pedi a evacuação. Depois desta merda acabar, vamos directos à estrada de Macomia que fica mais próxima e, às nove horas, a Companhia de Muaguide tem viaturas para nos recolherem. Disse-lhes para não trazerem rações.....ninguém tem fome depois desta porcaria....
O Bazuca, com o pessoal empenhado na batida no outro lado do rio, tardava em aparecer. Mais do que o braço do Ferreirinha, o Carrilho notava a atrapalhação do Correia às voltas com o Ambasse, com um estilhaço de granada alojado na cabeça. O seu aspecto não era assustador, mas o enfermeiro sabia, por experiência, do perigo de tal ferimento. O braço do furriel, a que fora estancado o sangue, ia inchando assustadoramente. Não lhe faltava o ânimo, alimentado pelas palavras reconfortantes do Carrilho, mas não escondia a dor que começava a sentir, cada vez mais forte.....
Os olhares sofridos do pessoal evitavam o corpo do infeliz Manjate, coberto por um abafo de pescoço. Era a primeira mortalha de um negro jovem, que nunca deixava de estar nos locais mais perigosos da luta.

No emaranhado de sentimentos que assaltavam os seus camaradas, ainda não viera à superfície a dor profunda que os dominou, largo tempo, no perder dum companheiro de armas....

- Meu alferes, lá vêm os passarinhos! - informou o Amisse, apontando para os dois helicópteros vindos do horizonte baixo.
Aproximavam-se. Um pouco acima, um barulhento T6 dava-lhes protecção.
A clareira da retaguarda serviria para a aterragem, apesar do capim alto. Montou-se segurança e uma granada de fumo largou um espesso cogumelo.
- E o Bazuca que não vem com a malta! Se houverem feridos dos gajos ou da população raptada, não são evacuados!
Já se fazia tarde e a Força Aérea não faria evacuações nocturnas. Mas, de momento, interessava prestar assistência aos nossos feridos.
Não muito do agrado da tripulação, lá se conseguiu meter o Manjate, o primeiro morto dos fardas pretas desde que há cerca de dois anos o Carrilho os comandava. Teve que viajar no “hélio” com boletim de ferido. Teria um funeral mais digno e humano que aquele que, localmente (na base), lhe poderia ser oferecido.
E quando os helicópteros, barulhentos, se elevavam lá no alto, algumas lágrimas teimosas saltavam dos olhos de homens endurecidos no calor da selva e da metralha, de corações forjados na selva inóspita em fortes laços de cumplicidade. Mas eram homens, sensíveis como todos os outros....alguns bem mais ainda. Não eram mariquices aquelas lágrimas que lhes rolavam pelas faces....começavam a compreender o mundo, a vida, à custa de sofrimento e de morte. À custa de si próprios....
- Já chegaram ao rio. Trazem muita gente com eles! -avisou o Zé João, agarrado ao morteiro 60, que nem a dormir largava. E vinham mesmo. O Jonange trazia mais cinco armas que não eram as suas: três Kalascnicov e as duas Simonov molhadas que, entretanto, retirara do rio. O Ubisse, como se a sua pesada metralhadora lhe não pesasse, exibia duas granadas de bazuca. Outro maconde carregava com dois sacos de papéis e, com a habitual graça, ia informando, zombeteiro, que “os gajos queria montar no mato mesmo o gabinete do administrador....”.
Com os últimos cinco homens, vinham, então, elementos da população do aldeamento atacado. Com eles haviam perdido grande parte do tempo, pois cada qual dos civis se esquivara para seu lado, ao soarem os primeiros tiros. Outros teriam mesmo fugido do local e tentariam, por certo, alcançar a aldeia donde haviam sido raptados.
Tal não acontecera ao filho duma velha negra, que chorava copiosamente: ao tentar subtrair-se à vigilância dos frelimos, fora abatido, de imediato.
Um velho, de peles secas, que diziam ser importante conselheiro do aldeamento, andava com muita dificuldade. Dos dedos dos pés, mordidos pelas micaias espinhosas, jorrava sangue a cada passo.
Não tinha descanso o Correia, naquele lúgubre fim de tarde.
- Os tipos eram muitos, meu alferes – diz o Bazuca, que , mal chegou da batida final, se encostou, hirto de cansaço, a um pequeno arbusto. -Diz esta gente -apontando para uma dezena de populares de ambos os sexos e variadas idades -que devem ser à volta de setenta. São oriundos de várias bases e só se reuniram para este ataque ao aldeamento do Longote. Além dos que tombaram no rio, encontrámos mais um, logo na margem, e outro já mais longe. Levam feridos, pois há rastos de sangue, devem tê-los carregado. Só lá estava este! - e de dedo em riste apontava para um maconde muito jovem, 16...17 anos, já sob os cuidados do enfermeiro. Não gemia, só lançava, a espaços. Gritos de dor. Tinha a perna bastante ferida, talvez pelo rebentamento de uma das granadas de morteiro.
- Temos de o carregar. Tratem de improvisar duas macas de ramos, pois o velho também não consegue andar e temos de atingir a estrada de manhã cedo. Vamos pernoitar mais à frente. O Alberto, que conhece bem a zona, ainda que nos vá custar, pode guiar-nos mesmo no escuro, para ganharmos algum tempo.
Foi, então, que parte dos fardas pretas começou a rodear o alferes, com um semblante estranho, a passos lentos mas decididos.
- Que quem vocês? Mexam-se que temos que arrancar daqui!...
- Nós queremos dizer-lhe que só carregamos o velho, meu alferes. O turra fica! Morto ou vivo, não interessa. Mas nosso não vai carregar com bandido que matou Manjate!
E travou-se um diálogo acalorado, nada agradável. O Carrilho olhava para o Bazuca, como que pedindo reforço de argumentos, mas aquele, ainda encostado aos arbustos, limitava-se a passar as mãos pelos cabelos desgrenhados....
- Vocês não sabem que é crime abandonarmos um homem ferido, seja quem for? Também gostavam que eles vos fizessem o mesmo? Guerra é guerra, mas o combate já acabou! – insistia o alferes.
- Eles fazem pior! Então porque é que os gajo quando apanha os milícia na picagem mata aqueles que ficam feridos nas armadilhas? Aquele meu primo Silale que ficou escondido na mata, não viu eles darem tiro na cabeça daquela gente?!- explodiu o Capoca.
- E meu alferes já esqueceu o que turras fizeram com seu primo cantineiro lá em Ancuabe, um homem que nem arma tinha e eles mataram junto com senhor Daniel do algodão, lá na estrada de Moja?! – observa o Zé João, num tom mais respeitoso, mas com mal contida raiva.
O Carrilho viu-se perante um dilema que não esperava enfrentar. Aquela atitude de quase insubordinação geral, perante a indiferença comprometedora do furriel e do Correia, tomava foros delicados, de indisciplina.


A muito custo, depois de lhes lançar o ultimato de que pediria para abandonar o G.E. logo que chegassem ao Quartel, caso a recusa de transportar o “turra” ferido, lá o foram carregando, contrariados e vociferando impropérios contra o frelimo que, afinal, era tão só mais uma vítima de guerra, de que pouca culpa também teria. E que, mais do que trazer no peito a ânsia de independência, mais não era do que um joguete de interesses internacionalistas e dos jogos de poder de altas potências.

E a abatida caravana arrancou daquele local sinistro, que ficaria gravado para sempre nas suas memórias.
Local de morte, de desolação, que poderia ser de trabalho e de paz.
Mais um pedaço de vida ficava ali perdido por entre lianas entrelaçadas que as balas raivosas cada mais desuniam.
No lodo das margens daquele rio ficavam enlameados bocados de almas de jovens que pretendiam conseguir o que, viu-se mais tarde, responsáveis não souberam respeitar, indiferentes aos sentimentos duma população que procurava fraternidade e entendimento.
Indignos do sacrifício de tantas vidas foram uns e outros. Uns por teimosia doentia, outros por incompetência e outros, ainda, mais recentes, por pressa e traição vergonhosas, quando decidiram ao total arrepio da vontade das populações.

FIM.


F. J. Branquinho de Almeida - 1975