Repesquei do meu outro Vouguinha (aquele em que me fecharam as comportas):
É só um, o Sol sonhador?
Para lá da sua força e fonte de vida, habituei-me, desde cedo, a descobrir naqueles raios brilhantes algo de mítico e tela se sonhos insondáveis.
Porém, são dois os momentos mais marcantes, o encantamento quase só explicável pela metafísica, na minha já velha memória de vida.
Quando, ainda hoje, assisto à alvorada festiva do Nascer do Sol, afasto as teias do tempo e subo ao Monte da Senhora do Castelo, alto e sobranceiro, com Vouzela aos pés e abraçando Lafões.
Recordo, então, tenros anos, quando, em grupos de jovens madrugadores, num determinado dia do ano, subia ao Monte, desde a vila, sorvendo, até ao alto, o cheiro fresco das acácias floridas e o discreto aroma do rosmaninho.
Lá ficávamos todos, por alguns minutos, sob a protecção da capelinha, aguardando que os primeiros fios de luz rasgassem os píncaros das montanhas distantes.
E ei-lo que chega, apressado e jovial, rompendo a orvalhada primaveril com um sorriso cúmplice, a despontar no horizonte, com uma sinfonia de cores, festejado pelos chilreios da passarada em alvoroço.
Era o clímax dos nossos sentidos jovens. Sentíamos o palpitar da vida no despontar daquele dia de tradição antiga.
Descíamos, depois, o monte em direcção à vila, já com o sol a elevar-se numa festa de luz.
Os anos passaram, tudo é feito de mudanças. Outras rotas, mas sempre o sol a intrometer-se, em surdina, mas com a mesma autoridade mítica, na minha existência já quase adulta.
Demasiado madrugador, aquele sol quente do Índico, raras vezes permitia assistir ao luminoso parto. Quando iniciava o dia, já aquela bola de fogo, irrequieta, tremelicava lá bem alto.
O encantamento da adolescência havia-se transferido com armas de sonhos, do Nascer para o Pôr-de-Sol, para o ocaso dos dias.
Ficava ali, estático, sentado no tronco do velho cajueiro, e deleitava-me com o recolher alaranjado do astro-rei. Via-o descer por entre os mangais, numas escadas de fios de ouro, por entre os ramos da mata frondosa.
E, quando se espalmava, em chamas dum vermelho vivo, no horizonte vasto, eram outros os aromas, os cheiros da terra, os silvos das aves, que não os do Nascer do Sol de outras épocas e de outras paragens.
Aqueles raios em chamas pairando nas nuvens altas e reflectindo-se numa manta alaranjada na pele fina e azul do oceano, transportavam-me a uma galeria de arte, numa mostra de quadros dos mais famosos pintores da Natureza Viva!
Mas, se aquele Nascer do Sol visto da Senhora do Castelo me apontava para futuro de vida, já aquele pôr-de-sol moçambicano, ainda que belo e exótico, me poderia, sem que o soubesse, transmitir a mensagem de que algo naquele Presente estava a caminho do fim.
E, no entanto, ambos os fenómenos, a tantas léguas de distância, me deixaram marcas de encantamento e me convenceram, definitivamente, que a Natureza como a Vida podem ser belas, quando as encararmos com todos os sentidos com que as divindades celestes nos dotaram. O sonho, incluído.
Mais: que o sol, correndo o mundo de lés-a-lés, é ele próprio, por direito, um eterno sonhador!
Porém, são dois os momentos mais marcantes, o encantamento quase só explicável pela metafísica, na minha já velha memória de vida.
Quando, ainda hoje, assisto à alvorada festiva do Nascer do Sol, afasto as teias do tempo e subo ao Monte da Senhora do Castelo, alto e sobranceiro, com Vouzela aos pés e abraçando Lafões.
Recordo, então, tenros anos, quando, em grupos de jovens madrugadores, num determinado dia do ano, subia ao Monte, desde a vila, sorvendo, até ao alto, o cheiro fresco das acácias floridas e o discreto aroma do rosmaninho.
Lá ficávamos todos, por alguns minutos, sob a protecção da capelinha, aguardando que os primeiros fios de luz rasgassem os píncaros das montanhas distantes.
E ei-lo que chega, apressado e jovial, rompendo a orvalhada primaveril com um sorriso cúmplice, a despontar no horizonte, com uma sinfonia de cores, festejado pelos chilreios da passarada em alvoroço.
Era o clímax dos nossos sentidos jovens. Sentíamos o palpitar da vida no despontar daquele dia de tradição antiga.
Descíamos, depois, o monte em direcção à vila, já com o sol a elevar-se numa festa de luz.
Os anos passaram, tudo é feito de mudanças. Outras rotas, mas sempre o sol a intrometer-se, em surdina, mas com a mesma autoridade mítica, na minha existência já quase adulta.
Demasiado madrugador, aquele sol quente do Índico, raras vezes permitia assistir ao luminoso parto. Quando iniciava o dia, já aquela bola de fogo, irrequieta, tremelicava lá bem alto.
O encantamento da adolescência havia-se transferido com armas de sonhos, do Nascer para o Pôr-de-Sol, para o ocaso dos dias.
Ficava ali, estático, sentado no tronco do velho cajueiro, e deleitava-me com o recolher alaranjado do astro-rei. Via-o descer por entre os mangais, numas escadas de fios de ouro, por entre os ramos da mata frondosa.
E, quando se espalmava, em chamas dum vermelho vivo, no horizonte vasto, eram outros os aromas, os cheiros da terra, os silvos das aves, que não os do Nascer do Sol de outras épocas e de outras paragens.
Aqueles raios em chamas pairando nas nuvens altas e reflectindo-se numa manta alaranjada na pele fina e azul do oceano, transportavam-me a uma galeria de arte, numa mostra de quadros dos mais famosos pintores da Natureza Viva!
Mas, se aquele Nascer do Sol visto da Senhora do Castelo me apontava para futuro de vida, já aquele pôr-de-sol moçambicano, ainda que belo e exótico, me poderia, sem que o soubesse, transmitir a mensagem de que algo naquele Presente estava a caminho do fim.
E, no entanto, ambos os fenómenos, a tantas léguas de distância, me deixaram marcas de encantamento e me convenceram, definitivamente, que a Natureza como a Vida podem ser belas, quando as encararmos com todos os sentidos com que as divindades celestes nos dotaram. O sonho, incluído.
Mais: que o sol, correndo o mundo de lés-a-lés, é ele próprio, por direito, um eterno sonhador!