
Provavelmente, até se trata de fotomontagem. Anda ai pela net. Para mim, a imagem pouco ou nada me diz, que se é luta política, é deles, que, para nós, basta a que temos intramuros!
Ainda assim, correndo o risco de me estar a repetir por aqui, esta imagem fez -me recordar algo, dos anos cinquenta. Na aldeia onde nasci e onde silvavam, diariamente, as máquinas dos comboios a vapor, por volta do Meio Dia, parava na estação da terra o denominado comboio correio. O ardina saía da carruagem da frente, vendia os "Primeiro de Janeiro" pela módica quantia de oito tostões e regressava ao comboio, pela última, depois de despachar meia dúzia de jornais e dar três ou quatro voltas ao boné ensebado que sempre trazia no cocuruto.
O Alberto (nome fictício), analfabeto e que não conhecia uma letra do tamanho do comboio, o mesmo onde ia religiosamente, todos os Domingos, comprar o jornal, subia, depois, vagaroso, uma rampa que ligava a Estação à padaria da terra, passando em frente ao Café mais concorrido da aldeia e onde a rapaziada se juntava, à hora do correio.
Com ar muito compenetrado, de quem fazia do exercício da leitura, um solene momento de vida, não raras vezes, era visto, na sua passada lenta, com o jornal ao contrário. De patas para o ar, no dizer dos mais mordazes.
Num certo Domingo, não me contive, e alertei-o:
- Alberto,vira o jornal!
O homem parou, e com um dedo espetado, virando os olhos e o pensamento para o horizonte, qual Sócrates em lição na Acrópole e retorquiu, com voz sonora:
- Assim é que é avaria. Que vocês, rapazolas, têm a mania que são sabichões, mas, se vos trocam as letras, não dão uma para a caixa!...