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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Pastéis de Vouzela/Pastéis de Tentúgal


Apeteceu-me meter as mãos na massa. Não exercendo cargo em empresa pública ou de cariz político, não o poderei fazer naquela massa que faz correr muita dessa "gente" e girar o Mundo em que vivemos. Meto-as na massa daqueles afamados pastéis, doces convites aos glutões ou a todos os que gozam em deliciar as papilas gustativas com estes manjares dos deuses... e dos frades. É comum ouvir-se, de quem conhece ambos, que os afamados pastéis de Vouzela e os não menos famosos pastéis de Tentúgal são uma e a mesma coisa. Não são. Passe o aspecto similar, algo os distingue, quer no folhado quer no recheio. Quando, em 1834, o maçónico Joaquim António de Aguiar, mais conhecido pelo "Mata-Frades", instigou à expulsão das ordens religiosas de Portugal, por decreto, e ao consequente encerramento dos conventos, as freiras que lhes davam vida viram-se na contingência de procurarem a sobrevivência nas terras de origem, junto dos seus familiares. Foi assim que monjas clarissas, mais vocacionadas para as doçarias conventuais, recolheram para junto dos entes mais próximos, em Tentúgal e Vouzela. Com elas levaram os segredos das delícias que confeccionavam intramuros e que se viram obrigadas a deitar mão, como modo de vida, passando esses segredos a um restrito número de familiares. E é aqui que entronca a diferença entre os conhecidos pastéis: partindo duma receita, muito provavelmente, comum, divergiram nos pormenores pelo facto das monjas que rumaram a Tentúgal serem provenientes do Convento de Santa Clara de Coimbra (e do Carmelo de Tentúgal), enquanto que as que se fixaram por Vouzela serem oriundas do Convento de Santa Clara, mas do Porto. Por mim, sem me preocupar com saber se o segredo está na massa ou no recheio, no Convento de Coimbra ou do Porto, tanto os de Tentúgal como os de Vouzela me despertam igual gula e satisfação, passe o facto de, sem caseirismos, preferir os confeccionados em Lafões, a quem confiro folhado mais fino e estaladiço.

Hoje pago eu. Sirvam-se!