Isto de se ter um pé num tacho, não o largar, mesmo que lhe não dê uso e préstimo, enquanto anda com outro pé à procura dum panelão com a marca UE, (não é assim, Aldrabão?) que lhe possa dar mais sustância à gula, não é muito diferente da voracidade dum marceneiro meu conterrâneo, que já se foi há muitas décadas:
Contam-me, desde menino e moço, que nos anos cinquenta, numa aldeia do concelho vouzelense, um solteirão marceneiro, no fulgor hormonal dos seus vinte e poucos anos, ia arrastando a asa às moças casadoiras da terra.
Um dia, com laivos de escândalo social, numa sociedade comunitária e arreigada aos extremados costumes puritanos, a notícia espalhou-se como fogo de Verão: o Artur “fizera mal” a duas virgens do lugar.
O pároco da freguesia, como bom pastor e com a autoridade temporal que, ao tempo, era reconhecida aos representantes da Igreja, escolheu o fim da missa dominical para resolver o sacrilégio dum dos membros do seu rebanho. Chamou o Artur e as duas raparigas à sacristia e intimou o aturdido marceneiro:
- Artur, desonraste estas duas paroquianas. Para que Deus te alivie o castigo, terás que casar com uma delas. Escolhe!
O nosso Casanova, confuso, depois de um esgar embaraçado, ergueu os braços ao Céu e exclamou: