O POVO E A CRISE
A memória histórica de Portugal atesta, de forma inquestionável, o espírito solidário de alguma união e muita generosidade sempre que, por alguma forma, acontecimentos nefastos façam perigar o país, enquanto nação secular.
Tem sido assim, desde a fundação da nacionalidade até aos nossos dias, por exemplo e com expressão marcante quando, em 1385, foi o Povo o baluarte da causa do Mestre de Avis, quando este encabeçou o movimento por um Portugal independente das ambições castelhanas. Voltou a sê-lo quando, em 1640, o povo de Vila Viçosa foi a mola para que toda a Nação convencesse o futuro Rei D. João IV a assumir a Revolução que nos havia de libertar das décadas de jugo espanhol.
Solidariedade vincada, de forma veemente, já nos nossos dias, nas expressivas manifestações e cordões humanos de 1999, em apoio ao massacrado povo de Timor.
Como tem sido sempre, não esqueçamos, na mobilização desinteressada e generosa na mobilização para campanhas de apoio às O.N.G. de âmbito social.
Continuaria a sê-lo, nestas horas de incerteza e aperto económico, com o Estado a braços com uma Crise que nos chegou do exterior e que agravou a doméstica com mais de uma década, se os destinos deste País fossem geridos por alguém que fosse exemplo, sem desmandos e erráticas medidas, e merecesse a confiança plena desse Povo a quem nos últimos anos vêm sendo exigidos, cada vez mais, sacrifícios.
Não vou, nesta reflexão, embandeirar o arco dos que tomam a parte pelo todo e acusam o partido no poder de todas as maleitas da nossa Sociedade actual. Pressinto mesmo que, bem no íntimo, a maioria dos militantes, simpatizantes ou simples votantes do partido da rosa, vivem, hoje, um conflito de consciência, quiçá, de disfarçada vergonha, pelo comportamento dum secretário-geral em que se não revêem.
Reconheço mesmo que o Partido Socialista tem Gente com ideais sérios e justos, alguns com uma visão romântica da Sociedade e que sonham com caminhos de justiça e respeito pelos valores que honrem a Pátria.
O mal deste País, a mancha negra da desconfiança e do desrespeito pelos valores que o Povo defende, parece residir numa só individualidade que não sabe, não pode ou não quer, encarnar esses desígnios.
Não posso asseverar, por também não querer expressar análises de carácter, que Sócrates é o “Aldrabão de feira”, como disse Pires de Lima, ou o que “Mente compulsivamente” ou que “é ingénuo ou extremamente sinistro” ou, ainda, “destituído de compleição de estadista” de que o acusa o jornalista e escritor Baptista Bastos.
Do que não duvido é que será ele o maior empecilho a que os portugueses dêem mais uma vez as mãos, se unam e sacrifiquem sem mágoa para que o País não se afunde mais no pântano desta Crise.
Sem plena confiança no Poder, faltará a tal mola que despolete o espírito solidário que apele ao sacrifício e ao empenhamento sério de cada um de nós.
Não se empenharão os empresários, não se empenharão, nem calarão, os trabalhadores privados e os funcionários públicos, muito menos a legião de desempregados; não se ganhará esta luta contra esta Crise pirata com a caravela duma Sociedade Civil que não acredita no carácter do seu actual timoneiro.
Urge resolver este problema nacional. Que poderá ser ultrapassado no seio do próprio partido que governa - e tem todo o direito de o fazer pela força do voto: outra Gente que preze a Verdade e a Transparência.
Como este Povo solidário gosta e merece!