Era o Verão de 1986. Época de férias, praias e Turismo.
Nunca havia pisado terras algarvias. Conhecia-as à distância, pelas cartas geográficas e, sobretudo, pelas noticias do seu desempenho turístico, alimentado, em grossa fatia, por estrangeiros; ingleses na sua maioria.
Mas não estava de férias, quando, acompanhado por um colega de trabalho, nos sentámos numa esplanada de Albufeira, com o propósito de tomarmos um aperitivo antes do almoço.
Eram poucas as cadeiras vazias, o espaço fervilhava de turistas.
- Dois "Moscatel", por favor! Um dos "barman", que antes se abeirara de nós sorridente e com fartos "salameleques", olhou-nos de soslaio, tomou notas e continuou a atender os veraneantes que iam chegando.
O tempo passava, o homem continuava na sua azáfama de servir e recolher gorjetas do pessoal que saía e atender quem ia chegando às mesas que nos ladeavam e que se expressavam na Língua de Sua Majestade.
- Desculpe, mas demora muito?! - questionei o mesmo empregado, que ia servindo os "camones" que chegavam, sem que satisfizesse o nosso pedido de há, seguramente, mais de vinte minutos.
- Já vai! - enquanto acompanhava a resposta com um abanar do braço e ar de enfado, continuando a servir o pessoal que havia chegado depois de nós.
Até que, irritados, nos levantámos e abandonámos o espaço, sem o tão demorado aperitivo.
- Vamos procurar a Gerência e reclamar! - alvitrou o meu colega, fazendo menção de entrar no interior do Bar.
- Deixa-te disso, não resolve nada, vamos, sim, sair de Albufeira e procurar almoço na periferia que por aqui os preços e o atendimento não são para portugas! - retorqui-lhe.
Já o jeep rodava por uma estrada secundária, mais do interior, até que se nos deparou um pequeno restaurante, de aspecto exterior modesto, onde um grelhador fumegava junto ao acesso.
Ao entrarmos, notámos, desde logo, que o "que estava na montra, nada tinha a ver com o armazém". De facto, o interior do restaurante tinha um aspecto bem mais requintado do que nos havia sugerido o acesso. Mas era tarde e o estômago pedia reforços!...
Dirigi-me à primeira das duas colunas existentes na ampla sala, onde estava exposto o Menu da Casa. Nela constava toda a espécie de grelhados, mas em Língua Inglesa. Continuei a ler, por decifrar, minimamente, cada um dos pratos ali sugeridos.
Solícito, um casaca negra impecável e de "papillon" exuberante, perguntou-me, naquele idioma, se já havia escolhido.
Quando lhe respondi, em bom Português das Beiras, que ainda estava a pensar, o homem deu um passo atrás e foi-se afastando, enquanto espetava o indicador para a a outra coluna e disparava secamente:
- Tem ali uma Lista em Português!...Mesmo não havendo necessidade, fiz-lhe a vontade e escolhi. Aproximou-se e indagou da opção. Eu e o meu colega informá-mo-lo do que pretendíamos, não sem que antes eu próprio lhe deixasse um "reparo:
- Esta Lista está em Português, mas os preços, continuam em Inglês, como aquela!Voltei, várias vezes, ao Algarve e fui notando que, gradualmente, o comportamento se foi alterando, culminando, nos últimos anos com o sintomático apelo "Portugueses, passem férias no Algarve!".
O vento mudou!
Volvidos 27 anos, sabendo do quanto representa para o País a Indústria do Turismo, satisfaz-me que saibamos exportar sol, simpatia, acolhimento e boas maneiras. Mas sem rótulos ou bacocas, interesseiras e desnecessárias discriminações.